Há tempos venho querendo abordar esse tema, sob esse viés, mas receava ser mal interpretado. Por ser um democrata convicto, corro o risco de ser considerado um "traidor" da democracia ao fazer tal abordagem, mas, vamos lá, quem está na chuva não deve temer se molhar.
Qual o sentido de enaltecer a democracia se estamos amarrados num sistema que consiste em eleger, para os mais importantes cargos públicos, pessoas que por apresentarem uma personalidade destoante da maioria, consegue se destacar e convencer as massas de que é o melhor representante político?
Não se pode negar que por diversas razões, dentre estas a nossa frágil formação política, escolhemos sempre pessoas que não tem sequer condições de debater a proposição de uma Lei, pois não teve este aspecto exigido quando se estabeleceu as regras para disputar uma eleição.
O resultado é, em muitos casos, alguém manipulável cuja incapacidade intelectual gera o ambiente de "mandato de faz de conta", já que este não tem vontade própria e quando tenta fazer prevalecer a vontade do seu eleitor, o resultado nem sempre é compatível com o que este eleitor de fato precisa, para melhorar sua vida na comunidade.
É certo que a democracia é o melhor sistema, já que sem ela imperaria o autoritarismo. Mas, o que faremos contra esse "autoritarismo" velado, travestido de democracia, que é o político sem ideias ou projetos que simplesmente se aproveita de sua eventual fama, para se projetar nos ambientes de poder?
Com a popularização da internet e suas redes sociais, esse problema se ampliou e tornou-se praticamente incontrolável.
Quem não se lembra do homem em situação de rua que foi acusado de abusar de uma mulher em seu próprio carro, que viralizou na internet e foi levantada a hipótese do mesmo disputar uma eleição, por conta de sua fama repentina?
E um outro caso emblemático foi a enfermeira que recebeu a primeira dose de vacina contra a COVID 19 e foi rapidamente procurada por partidos políticos, para filiação e possível candidatura.
Se não ficarmos atentos a isto estaremos enxugando gelo e jamais sairemos dessa condição de país em desenvolvimento, cuja representação política revela que é possível confundir democracia com ditadura do ilusionismo.
São Mateus-ES, 18/07/2023
Carlos Quartezani