terça-feira, 12 de novembro de 2024

O óbvio que precisa deixar de ser óbvio

Uma sociedade que é centrada no ter, que tem convicção de que a felicidade consiste no que o dinheiro pode comprar, nunca entenderá a razão de muitos infratores da Lei lhe tirarem a paz, com seus furtos, roubos, sequestros e outras violências.

Não pretendo, com essas palavras, diminuir a importância do dinheiro. Sei que o vil metal promove, em grande medida, os momentos felizes e em muitos casos, o alívio diante de uma dificuldade sanável.

Contudo, se este se tornar o seu deus, poderá ser invadido pelo sentimento que aniquila os mais nobres sentimentos e que nos torna motivo pelo qual, há que se duvidar se de fato, como está no livro dos cristãos, fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. 

Um escravo se caracteriza por seu alto grau de dependência em relação a outrem, sem qualquer direito humano que o alcance. Se considerarmos que para muitos a falta total ou o pouco dinheiro é a razão de sua infelicidade, teremos então instituida a escravidão dos tempos atuais, que não se resolve com nenhum tipo de abolição, a não ser a abolição da forma de se relacionar com o dinheiro ou a falta dele.

Certamente, se conseguirmos enxergar os nossos reais valores, que quase nunca tem a ver com a quantidade de dinheiro que possuímos, teremos alcançado realmente o verdadeiro significado da vida, de ser humano, que veio do pó e a esta condição retornará.

Vivemos tempos sombrios em que os males se multiplicam e até mesmo a simples atitude de fazer o bem, uma obrigação daquele que se considera "filho de Deus", virou um negócio lucrativo e que por meio dos recursos tecnológicos, tornam-se também mecanismos de ganhar mais dinheiro. 

Não sei você, que me concede a honra de ler o que escrevo, mas eu ando muito pensativo sobre o que fazer nesse caótico mundo em que vivemos. 

Carlos Quartezani

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Acordo?

Se me permitem, acho que as autoridades envolvidas deveriam se debruçar sobre o tema da nova pactuação do acordo de indenização às vítimas do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana-MG. 

Tem muita coisa que parece não estar considerada no tal acordo. Até mesmo o termo "acordo" não faz jus ao que ocorreu na última sexta-feira, dia 25 de outubro de 2024, data em que foi assinada a documentação. 

Ora, se é um acordo, por que a entidade que representa os atingidos, não participou da mesa? Pode ser que haja uma razão, mas que só contempla o ponto de vista de quem decidiu isto. 

Não acho justo que tenha sido direcionada uma quantia ínfima para os indivíduos atingidos - 35 mil reais - com a agravante de que quem já recebeu, por via do primeiro pacto, teve enorme vantagem sobre quem está com o processo pendente na Renova. 

Muitos dos quais, pendentes por morosidade de quem analisa o processo e não por parte do requerente, ou seja, aceitaram o acordo, o primeiro, mas foram preteridos. 

Vão receber? Não tenho dúvidas que sim, mas não como os outros que já puderam refazer suas vidas ou, pelo menos, melhorá-la.

Falar sobre isto nos jornais ou qualquer outro meio de comunicação, pode ser de suma importância, para uma eventual revisão desse acordo que potencializou o poder político de quem está no poder e deixou a ver navios o cidadão comum, quem de fato sofreu as consequências do acidente ambiental em Mariana-MG.

Carlos Quartezani

domingo, 13 de outubro de 2024

Continuidade

Em política, especialmente nos momentos eleitorais, o foco é sempre nas pessoas. É como se este ou aquele indivíduo (homem ou mulher), de acordo com a nossa preferência, fosse suficiente para tornar a máquina pública mais eficiente e assim, proporcionar dias melhores. 

Mas eu digo que não é simples assim e uma dessas razões vou explicar aqui, procurando, como sempre, não ser muito prolixo nas palavras, embora às vezes seja difícil dizer tudo o que é preciso, em poucas palavras.

Bom, vamos lá. Diferente de uma empresa, na gestão pública não apenas as decisões voltadas para o resultado prático devem ser consideradas. Este resultado deve contemplar prioritariamente o social, sem, contudo, abrir mão do bom funcionamento da estrutura pública. Como no futebol, o gestor precisa encontrar o jogador certo para a posição certa, inclusive. 

Não tem milagre. Se não houver pessoas certas nos lugares certos e um tempo suficiente para que um bom plano seja executado, este já nasce morto, ou, no máximo, insuficiente.

Na minha cidade, que nasci e vivi nos últimos 50 anos, tivemos recentemente a oportunidade de ver como uma gestão pública contínua, ou seja, que vai além dos quatro anos, pode trazer inúmeros benefícios para a sociedade na totalidade. Não fui apoiador do grupo que implantou o sistema à época, admito, mas com o passar dos anos ficou impossível não perceber o quanto uma boa gestão é plenamente possível e traz retorno positivo para a população. 

Trazendo agora o tema para os demais municípios do meu Estado, mais precisamente no município vizinho, eis que surge um outro exemplo de que quando o povo escolhe um bom projeto, os resultados aparecem e de quebra, reelege os responsáveis.

Estou me referindo a Pedro Canário, cidade que na década de 80 conquistou sua emancipação política e nos últimos oito anos, mudou o rumo de sua história. De lugar marcado por administrações sempre aquém do que merecia, tornou-se referência de gestão pública.

Com o Prefeito Bruno Araújo, eleito e reeleito e nesta última eleição, elegendo o seu sucessor, o município tem tudo para se tornar um gigantesco exemplo de que quando há um plano, pessoas dispostas a cumprir as etapas e união popular, é possível sim fazer um bom trabalho de gestão, sem necessariamente precisar de um milagre. 

Eu espero que a minha cidade, Conceição da Barra, com a gestão que se iniciará no próximo ano, repita a experiência que viveu há alguns anos e permita que haja um trabalho organizado, metódico, focado em áreas que contemplem a economia local (cada distrito com sua vocação) e que no futuro, possamos comemorar o nosso êxito, como o faz hoje os cidadãos de Pedro Canário, cidade-filha da Barra.

Possível eu sei que é, mas a sociedade precisa colaborar, fazendo o seu papel, especialmente os que receberam a missão nas urnas no último domingo. 

Carlos Quartezani

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Juntos, porém separados

Algo que eu de alguma forma já previa, aconteceu na campanha das eleições 2024 na minha Conceição da Barra: A regionalização do processo político. Estamos divididos entre a Sede do município e o maior Distrito, Braço do Rio. 

Não precisa ser muito atento para perceber que os candidatos parecem imaginar que há duas cidades. Para fazer uma comparação "cultural", e assim um melhor entendimento do que digo, estamos entre o axé e o sertanejo. 

De um lado, entre os oito pleiteantes, estão cinco identificados com a Sede e os outros três, com o Braço do Rio. Daqueles considerados em condições de disputar, segundo as pesquisas, dois são mais conhecidos no Braço do Rio e um (com o registro indeferido mas na disputa), tem seu eleitorado mais próximo da Sede.

Gostaria de destacar para a população, mais precisamente as pessoas que acompanham o meu trabalho aqui nas redes sociais, é que essa postura dos candidatos, apesar de ser em parte justificada (votos), não é bom para o município. Não se trata de uma eleição distrital, mas municipal e aquele ou aquela que vencer, não deverá ter preferência por esta ou aquela localidade.

O município é um só e não há a menor possibilidade de criação de um novo município, contemplando a região, digamos, mais rural e industrial, do ponto de vista econômico. É pura ilusão acreditar que isto um dia será possível.

No nosso caso, um sustenta o outro, já que a pesca e o turismo, além da Usina Alcon, estão na área comum à Sede e o agronegócio, no distrito de Braço do Rio, além de estar às margens da BR 101, um aspecto importante para a atividade comercial. As duas regiões são importantes!

Eu, na qualidade de "nascido e criado" na cidade que nasceu de um beijo, ou seja, pertencente à Sede de Conceição da Barra, mas consciente da importância que tem o Distrito de Braço do Rio, espero que o eleito, ou eleita, não confunda as coisas e trabalhe visando o todo. 

O município é um só, embora distantes geograficamente, Sede e Distrito. Ninguém ganha com preferências entre este e aquele. 

Pensar no todo, diga-se de passagem, não é criar factoides para que "sugira" que o gestor enxerga a outra região do município. Não faz sentido nenhum, por exemplo, Carnaval no Braço do Rio ou um Rodeio na Sede mas, explorar adequadamente os valores e a cultura de cada uma das regiões e fazer uma integração inteligente e produtiva, para o município como um todo. 

Espero que a luta pelo comando da cidade, não se resuma a uma partida de futebol que quando acaba, só quem realmente ganha são os assalariados do setor, ou seja jogadores e os dirigentes. 

Carlos Quartezani

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Renovar

Na política (pelo menos como ela deveria ser) o mais importante é a missão e como em toda missão, cumpre-se e parte-se para uma outra. Não cabe, ao meu ver, a eternização no poder. A rotatividade deve ser praticada.

Por mais que o argumento seja forte, aquele que prescinde que o time que está vencendo não precisa mudar, na política, diferente dos esportes, o que está em jogo não é só vencer, mas fazer com que todos os cidadãos que querem contribuir, sintam-se motivados para essa participação. 

Quem daria crédito a um processo no qual o vencedor já está determinado? Qual é o cidadão que tenha realmente vontade de servir, através de um mandato político, vai se submeter sabendo que a carta já é marcada?

Sempre digo que a política, caso fosse uma modalidade esportiva, estaria mais assemelhada com as modalidades em equipe, aquela em que o mérito é de todos e não um indivíduo especificamente. É uma corrida de bastão e não os cem metros rasos. Se não for assim, não é democrático. 

Outro problema que também considero desfavorável em relação a este tema, é o mandato de pai para filho, ainda que essa "paternidade", não seja no sentido literal. 

A quem estamos escolhendo para nos representar politicamente? O que defende uma ideia, uma corrente de pensamento sobre como deve ser conduzida uma cidade, ou a substituição de uma pessoa por outra?

Sinceramente, não acho produtivo. Embora saiba que este ponto de vista vai incomodar, não se pode deixar de falar sobre o tema. Tudo que incomoda, provoca mudanças!

Nessas eleições reflita sobre as questões que realmente importam e observem quem de fato entendeu o seu papel ou se é apenas mais alguém que viu na política, um bom emprego e por isto quer continuar.

Como dizem por aí, fica a dica!

Carlos Quartezani

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Proposta de gestão

Eu sei que a maioria da população tem um conceito diferente acerca da função da campanha eleitoral. O carisma é de longe o que mais se leva em conta quando vai escolher seu candidato. Mas, é um aspecto que realmente importa quando o que está em questão é a administração da cidade?

Certo, eu não vou dar murro em ponta de faca, afinal, os especialistas em marketing e propaganda já sabem que as pessoas escolhem como candidato, aquele que elas gostam, seja um parente, um amigo, alguém que seja próximo, mesmo que seu histórico nada tem a ver com a política.

É assim, na nossa cultura. Não importa o seu currículo. O trabalho político, na visão da maioria, pode ser desempenhado por qualquer pessoa, inclusive aqueles que não sabem como ela funciona. As escolhas feitas até hoje revelam essa realidade. 

No entanto, não custa lembrar que o cargo de Prefeito, especificamente, requer alguém capacitado politicamente, para ter à sua volta, além de pessoas que o aconselhem acertadamente, mas que também tenha uma ideia clara a respeito de sua gestão, qual o seu objetivo nos próximos 4 anos e como se dará esses passos, até o atinjimento dessas metas. 

Ele, o Prefeito principalmente, será o responsável por decisões que vão determinar o desenvolvimento da cidade, como ele estará no período em que terá essa responsabilidade. 

A Lei determina que os candidatos apresentem seu Plano de Governo no momento em que registra sua candidatura, mas o que está escrito ali é cobrado de fato? É uma mera formalidade ou é um documento que realmente tem valor, podendo ser cobrado o cumprimento inclusive na seara judicial?

Essas perguntas devem ser feitas, embora não hajam respostas, mas se cada cidadão e cidadã que passarem a se interessar de fato pela política e não apenas pela campanha eleitoral, ainda que demore, estaremos criando um novo ambiente na política, no qual os candidatos não explorem tanto o fato de que a maioria, não tem interesse em saber se o candidato tem ou não uma proposta para governar a cidade e se tem, se realmente pretende cumprir o que propôs. 

Dar justificativas do porque não conseguiu fazer um bom governo, não nos devolverá o tempo perdido. Observar quem tem um plano efetivo para a cidade não custa nada. Escolher a "pessoa" é importante, mas esta precisa mostrar que tem proposta e clara.

Carlos Quartezani

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Muita calma nessa hora

Outro dia, na fila do caixa da padaria, ofereci minha vaga a uma mulher (aparentemente mais velha que eu), na expectativa de que o gesto fosse agradar. No entanto, ao ter dito em tom cordial que ela deveria "ter mais dias sobre a Terra do que eu" e portanto, merecia ter a preferência, fui bombardeado por uma reação intensa e indignada "você está me chamando de velha?!!!"

Se Deus tivesse me contemplado com a capacidade do avestruz, de esconder a cabeça num buraco, certamente seria uma solução melhor do que, já com o rosto corado, pedir desculpas e dizer que não foi a minha intenção. 

Se meus amigos mais antigos estiverem lendo este texto, estão às gargalhadas, pois sabem que sou dotado de uma capacidade enorme de dizer palavras que eram melhor permanecerem apenas em meus pensamentos. Mas, sabem também que eu jamais teria a intenção de ofender, por mais que a madame em questão não acreditasse nisso. 

O episódio remete a este tempo difícil que vivemos, onde a paciência, o equilíbrio, a mansidão, não existem mais. Poucos conseguem relevar um ato falho, uma frase mal colocada, um "dia ruim", partindo para uma atitude extrema e desproporcional ao que realmente a situação pede. 

Para não ficar apenas em um exemplo e o leitor que me acompanha não achar que estou exagerando, outro episódio em circunstâncias diferentes, também revelou com clareza essa anomalia nas relações de convívio social. 

Trafegando com o meu veículo numa determinada via, fui obrigado a freá-lo repentinamente para evitar atropelar um animal silvestre que lentamente, atravessava a via. Não atropelei o bicho, mas o motociclista que imprudentemente estava muito próximo ao meu veículo, para evitar chocar-se na traseira do veículo que eu dirigia, fez uma manobra que o levou ao chão. 

Preocupado se o rapaz havia se machucado, estacionei e fui prestar um eventual socorro. Sabia que eu não era o responsável por seu infortúnio, mas talvez precisasse de algum auxílio. 

O rapaz veio em minha direção enfurecido, questionando quem iria pagar seu prejuízo. Bom, eu não entendi nada, já que quem por pouco não me deu um prejuízo foi ele, ao bater levemente no pára-choque do veículo, mas sem danificá-lo. 

Os dois fatos aqui narrados, descreve o momento que vivemos no país ou quem sabe até no mundo, onde as pessoas não conseguem ter capacidade de conter suas emoções, sobretudo o ódio, e por motivos fúteis, explodem agindo como seres primitivos.

Proponho essa reflexão para que possamos nos permitir colocar em prática um comportamento que seja condizente com a educação que recebemos e atenda aos padrões mínimos de civilidade. Se precisar,  conte até dez e tenha muita calma nessa hora!

Carlos Quartezani