A busca pela qualidade do voto, em detrimento da quantidade no trivial vou ser eleito “custe o que custar”, ainda está muito longe do que podemos chamar de a ordem do dia na política brasileira. Homens e mulheres do bem que realmente anseiam por uma comunidade melhor, assistida nos seus mais elementares direitos e conscientes de seus deveres, ao acessar o ambiente político, depara-se com um universo cheio de vícios capazes de transformar pessoas bem intencionadas e cheias de sonhos, em verdadeiros zumbis, conformados com a idéia de que nada ali pode ser modificado, e, sob a ameaça de quem tentar faze-lo, logo será enquadrado e condenado ao ostracismo político, quando não lhe sucede algo pior.
Os critérios utilizados pelo eleitor ao escolher os seus representantes, sequer poderiam ser considerados como critério. Como imaginar alguém sendo eleito para representar uma cidade inteira, simplesmente por ser um cidadão envolvido com alguma atividade de cunho social? Ou, simplesmente, que este cidadão faça parte de uma organização da sociedade civil, que cuida de crianças abandonadas, ou idosos, enfim, uma atividade que por si só, já deveria ser a razão para orgulhar-se de ser um cidadão e não necessariamente servir de estimulo para a ocupação de um cargo político, por simplesmente possuir essa virtude. É preciso que a população seja insistentemente bombardeada por informações de qualidade e que essas informações partam das instituições, cuja existência, deveria ter por finalidade – além de elaborar propostas para governar uma cidade, um estado ou um país - orientar as pessoas para o entendimento do que significa efetivamente exercer a cidadania. Quem são essas instituições? Os partidos políticos, sem sombra de dúvida! Porém, não é esta a realidade que assistimos. A cada eleição verificamos um emaranhado de situações, que não aproxima em nada os partidos políticos de sua real função na sociedade e a população, por seu turno, cada vez mais confusa quanto aos critérios para a escolha de seus representantes.
Iniciativas populares como o recente “ficha limpa”, contribuem na tentativa de eliminar os vícios, que já mencionamos, e que nos impedem de progredir, de bater no peito e dizer que somos um país democrático. Porém, só isso não basta. É preciso muito mais do que apenas impedir que pessoas com restrições na Justiça sejam candidatas aos cargos públicos. Se partirmos do princípio de que a representatividade significa alguém expressar a vontade da coletividade, de uma comunidade inteira, não seria exagerado afirmar que a população dos morros e favelas dessa imensa nação brasileira se sinta melhor representada por elementos considerados (e são) fichas sujas. Portanto, não seria suficiente tentar iniciar um processo pelo fim. Para que efetivamente haja capacitação para representar, o simples fato de ser um “ficha limpa” não é a senha para a ocupação de um cargo público. O discurso por uma melhor educação e que é sempre considerado como o “samba-de-uma-nota-só”, é de altíssima relevância ser colocado em prática, especialmente quando os fatos são suficientes para concluir que as pessoas estão morrendo por falta de conhecimento. Não somente a educação tradicional onde se preparam alunos para os vestibulares e a preparação para a profissão que irão desempenhar no futuro, mas uma educação para a vida, capacitando o individuo para lidar com as situações do dia a dia, nas quais podemos incluir o conhecimento de seus deveres e direitos na sociedade.
Enquanto estivermos concentrados em remediar e não assumirmos uma postura de prevenção, estaremos sempre (para expressar-se de maneira bem popular), “enxugando gelo”, perdendo um precioso tempo que poderia estar sendo utilizado na construção de uma sociedade que pense, que perceba que o mundo que desejamos, é o mesmo que destruímos com a nossa incapacidade de acreditar em projetos de médio e longo prazos, e que envolva os processos de educação para a vida em nossa sociedade, e, em especial, no ambiente político ao qual estamos inexoravelmente inseridos.
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