Em dois momentos, num prazo de 10
dias, li num importante jornal do nosso Estado, matérias no caderno de “política”,
relativas ao nosso município e que não as avaliei como uma realidade factual
mas que se baseou num sentimento de um povo que está desorientado
politicamente, e por isso, ao buscar uma explicação para os nossos infortúnios,
atribui à “rivalidade política” nossa dificuldade em resolver nossos problemas,
sobretudo, o desemprego.
A política é necessária e é
preciso que a população compreenda que debater, questionar ações ou a falta de
ações de um governo, não é algo que trará prejuízo para a coletividade. Ao
contrário! Na medida em que se discute, dialoga e oferece alternativas para
determinadas ações - que vão mexer com a realidade das pessoas - a
probabilidade de acerto aumenta, oferecendo, inclusive, o direito de se sentir
participante daquela decisão. Se porventura a ação não for boa, a
responsabilidade pode ser compartilhada com todos, sem a inútil procura por
culpados. Se fizermos juntos, acertaremos ou erraremos juntos.
Não vou entrar no mérito do ponto
de vista da jornalista que escreveu a matéria, porque acredito que escreveu apenas baseado naquilo que o entrevistado lhe relatou. No entanto,
percebo que no dia-a-dia das redações dos jornais, os repórteres de “política” escrevem
seus textos partindo de um pressuposto que a política e os políticos de modo
geral, são dispensáveis e que a população, ao afirmar por exemplo que “o que
impede o desenvolvimento de um município como Conceição da Barra é a rivalidade
política”, está revelando uma verdade absoluta e que, de fato, o “bom para
todos” seria que não houvesse rivalidade alguma e que todos concordassem com o
que foi dito pelos poderosos do momento. Ledo engano. Quanto mais distante da
política, menor é a chance de encontrarmos soluções que atendam o que realmente
deseja e sonha a população.
Particularmente não sou favorável
a encaminhar embates políticos para a seara pessoal, porém, como desvincular o comportamento
do cidadão, na mais ampla acepção da palavra, do representante político
escolhido pelo povo? A política é necessária e se há um aspecto que contribuiu
para que não fossemos lançados definitivamente numa “terra de zumbis”, é o fato
de continuarmos lutando para que o contraditório esteja a serviço das pessoas
que não abrem mão do direito de pensar e colaborar para uma cidade melhor, em
todos os sentidos e não apenas, em situações específicas, independente se quem está no poder, concorda conosco ou não. E isto, pode até ser
classificado como rivalidade política, mas com o intuito de contribuir e não
impedir o desenvolvimento da cidade.
É evidente que precisamos de
infra-estrutura e o mais acertado gerenciamento dos recursos públicos, porém,
governar é um ato coletivo e que envolve os mais diversos pensamentos e
opiniões. De uma pessoa comum, uma dona de casa, um servidor público, um
comerciário, etc... podem surgir ideias que mudarão a realidade de uma cidade.
No entanto, sem a política, essas pessoas jamais seriam ouvidas. Em Conceição
da Barra, temos rivalidade política sim e ela está a serviço do bem e não uma
pedra de tropeço como tentam simplificar quem eventualmente está no poder e não
quer deixá-lo de jeito nenhum, como se fosse possível a sua eternização. Ah, e
isso vale para todos e não apenas para quem governa Conceição da Barra hoje.
ótimo artigo, usei-o em uma redação dessertativa argumentativa para as olimopíadas de lingua portuguesa de minha escola.. Parabéns ;)
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