Logo que surgiu a ideia de tentar banir do meio político
pessoas cujo passado não corresponde à natureza “cândida” do pretendente a um
cargo público, começamos a sonhar com a possibilidade de avançar em termos
qualitativos no tema “política”. A igreja católica, uma das entidades
responsáveis pelo movimento em favor da Lei da Ficha Limpa, sonhou junto
conosco que uma vez aprovada (a Lei), não teríamos mais candidatos em situação
duvidosa quanto ao seu comportamento como homem (ou mulher) público.
No entanto, observamos que algumas mudanças, tanto na vida
particular quanto na sociedade, só é possível quando a maioria dos envolvidos
assim deseja. Na família por exemplo, para implementarmos algumas mudanças
necessárias é preciso que todos estejam de acordo, do contrário, não tem a
devida eficácia. A toalha molhada esquecida na cama ou o creme dental que se
aperta no meio, serão sempre meros detalhes que já fazem parte da paisagem do
lar, embora aborreça profundamente um dos cônjuges.
No que diz respeito às mudanças na sociedade, é preciso
buscar o consenso que possibilite inclusive uma revisão na nossa Constituição.
Enquanto houver a possibilidade de
recursos e mais recursos, e que permita determinadas candidaturas acontecerem
mesmo estando envolto a vários problemas judiciais, nunca conseguiremos fazer
com que a política seja um ambiente apenas para os que são “cândidos” e assim,
aumentamos o número de pessoas que se recusam a votar, como aconteceu de forma
preocupante nas eleições municipais deste ano.
A frase recorrente “eu odeio política”, falada com certo
orgulho sobretudo nas camadas mais jovens da sociedade, é um equívoco mas uma
realidade que não se pode ignorar. A falta de engajamento político, por parte
do povo, e o interesse zero por parte do governo em estimular a participação
das pessoas no processo, aumenta a sensação de que a política é ruim e que
podemos viver sem ela, tranquilamente. E aí está o grande perigo, pois as
ditaduras nascem exatamente em ambientes assim, quando o povo começa a achar
que não precisa da política e que tanto faz quem governa, pois sua vida não
depende disso.
Que as eleições municipais sirvam de reflexão para toda a
sociedade, em especial no aspecto das abstenções e que a Lei da Ficha Limpa
possa cair nas graças do povo e ele próprio, o povo, possa fazer o julgamento e
não votar em pessoas cujo passado é nebuloso, mesmo que ainda não se tenha
passado por todas as instâncias legais na Justiça de nosso País.
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