Recentemente
numa reunião de escola, dessas reuniões periódicas em que a direção faz um
relato sobre os avanços e as dificuldades encontradas para atingir metas, fui
surpreendido com a observação feita pela diretora de que nós, os pais de
alunos, deveríamos fazer uma reflexão sobre as razões de não permitir que
nossos filhos participem de atividades que envolvam por exemplo as festas
juninas. Sob o argumento de que se trata de eventos “culturais” e que valoriza
a história e a origem de nosso povo, a diretora falou da dificuldade em “ter
que realizar os ensaios das danças folclóricas e excluir dessas atividades as
crianças cujos pais não permitem sua participação”.
De
fato tal situação é preocupante pois do ponto de vista da criança, não há
razões para que elas não dancem, tendo em vista que seus coleguinhas estão
participando. No entanto, esse relato da diretora da escola, que evidentemente
tem suas preferências e é um direito, expõe um dilema existente e que até hoje
ninguém ousou trazer à baila na sociedade barrense, ou se o fizeram, não
encontrou a devida importância e caiu no esquecimento.
Se
o Estado é laico, como pressupõe a Constituição Federal, as escolas públicas
não deveriam ter um comportamento de laicidade e abolir manifestações que
privilegiem uma determinada religião? As festas juninas, notoriamente, celebram
santos católicos e as pessoas que tem outras preferências religiosas, ou não
tem nenhuma preferência (os ateus), ficam numa situação de constrangimento
quando esses eventos estão por acontecer.
Comumente
os defensores dessas manifestações argumentam que as “festas” ajudam a angariar
verbas para o atendimento de demandas que não são supridas pelo poder público.
No meu ponto de vista, um argumento pouco convincente na medida em que os
recursos existentes, sobretudo em nosso município, são suficientes, tendo em
vista que os repasses do Governo Federal e que devem ser exclusivamente
aplicados na EDUCAÇÃO, não é pouco. Estima-se que só em Conceição da Barra, as
transferências federais para a educação são da ordem de R$2milhões por mês e desses
valores, apenas a metade tem a obrigatoriedade de investimento na folha de
pagamento. O resto, bom, o resto você que está lendo este texto, tire suas
próprias conclusões.
Não
sou contra a preservação da cultura de um povo, principalmente o nosso. Porém
acho que o ambiente escolar deve ser exclusivo ao conhecimento. A escola deve
provocar o raciocino, a reflexão e a descoberta de soluções para um mundo mais
justo, produtivo e em condições de receber bem as próximas gerações. Não
acredito que a preservação de valores culturais seja uma obrigação da escola, e,
se assim o fosse, deveria respeitar também aqueles que tem outras convicções a
respeito da religião.
Um
cidadão evangélico, como eu o sou, não teria o meu apoio se quisesse promover
exclusivamente cultos na escola sem permitir que outras religiões também o
fizessem. Somos um País livre e podemos cultuar e é exatamente por isso que
existem os templos, e que por decisão democrática e de muito bom gosto, conquistamos
o direito de não pagar tributos para o seu funcionamento.
Espero
ter me feito entender e que as pessoas, sobretudo quem tem a função de
representar o povo, os vereadores, possam
promover debates nesse sentido e descubra soluções para que o constrangimento
que os participantes de outras religiões, ou de nenhuma, passam, especialmente
nos períodos de “festas juninas”, não se perpetuem e sintam-se sempre alijados
da sociedade da qual ele é tão protagonista quanto os que são participantes da
religião dominante.