segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Festival de Cultura faz Conceição da Barra POCAR de alegria!



Festival chega à sua segunda edição, entrando, definitivamente no calendário cultural do estado.
Programação gratuita, diversidade de atrações e apropriação do espaço público marcam evento que acontece entre os dias 20 e 23 de Fevereiro em Conceição da Barra e Vila de Itaúnas.

Entre os dias 20 e 23 de Fevereiro, a cidade de Conceição da Barra, localizada no norte do Espírito Santo, abriga o POCAR – Festival de Cultura. O Festival é uma realização da Estandarte Cia. de Teatro, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, apoio da Prefeitura Municipal de Conceição da Barra, contando ainda com parceria do EREA Itaúnas.

Múltiplo em seus significados, o verbo POCAR é para o capixaba mais do que uma expressão característica do estado do Espírito Santo. Sobretudo, é símbolo de identidade cultural e linguística difundida no falar cotidiano de seu povo. Inspirado pela diversidade de significados imersos na expressão, o POCAR Festival de Cultura chega à sua segunda edição, com o compromisso de proteger o patrimônio material e imaterial da região do Sapê do Norte, objetivando ainda oferecer novas possibilidades de promover o turismo local e se fazer cultura.

Com uma programação inteiramente gratuita, O POCAR leva à cidade espetáculos teatrais, show, intervenções artísticas, exposições, lançamento de livros e debates, sem preterir as manifestações folclóricas locais como os Ticumbis e Reis de Boi.

Histórico

O POCAR – Festival de Cultura nasceu em 2013, como marco para celebrar a elevação, pelo Conselho Estadual de Cultura, do conjunto arquitetônico que abrange a Praça Central de Conceição da Barra – assim como os casarios que a circundam -, além do Cais do Porto como Patrimônio Histórico e Artístico do Espírito Santo

À época, uma onda de solidariedade varreu a cidade. Sem patrocínio, mas contando com apoio de artistas que se sensibilizaram com a proposta do festival e, principalmente, de doações, tanto financeiras quanto de mão de obra, feitas pela própria população, permitiram a criação e realização do evento.

“A ideia seminal de criar o POCAR era, sobretudo, de propiciar um novo paradigma cultural e turístico para nossa região que carece ainda de políticas culturais efetivas que atendam às necessidades dá população local e também dos turistas que tradicionalmente frequentam a cidade, identificando a arte, a música, o teatro e as manifestações tradicionais como bens simbólicos capazes, ao mesmo tempo, de suscitar a formação educacional e o turismo”, comenta o ator e produtor cultural barrense, radicado em Ouro Preto (MG) Didito Camillo idealizador e coordenador geral do POCAR.

O sucesso da primeira edição do festival permitiu que o evento entrasse, definitivamente, no calendário cultural do estado. Contemplado com o edital de chamamento de eventos culturais da Secretaria de Estado da Cultura, o POCAR ganhou reconhecimento e articulou diversas outras parcerias com entidades públicas e privadas.

Programação – A rua como espaço privilegiado para o fazer artístico

Assim como a maior parte das cidades brasileiras afastadas dos grandes centros urbanos, Conceição da Barra carece ainda de equipamentos culturais como teatros e cinema, muitas vezes essenciais ao desenvolvimento humano. Subvertendo esta realidade, o POCAR – Festival de Cultura propõe a ocupação do espaço público. Diversa, democrática e gratuita, a programação do POCAR acontece nas ruas, praças, cafés, restaurantes e no Cais da cidade, considerando estes locais como palcos privilegiados para a realização de um evento cultural. 

Com o objetivo de fundamentar esta ideia, a companhia capixaba Repertório Artes Cênicas, apresenta o espetáculo Entre Memórias e Esquecimentos. A intervenção artística propõe um encontro com as praças e seus transeuntes, construindo um memorial desses locais. A partir da ocupação performática das praças, o grupo levanta questões acerca das memórias das pessoas e sua relação com o cotidiano, oferecendo novas possibilidades de experienciar o espaço urbano.

No ano em que o país realiza a Copa do Mundo, as ruas de Conceição da Barra vão se transformar em campo, ao receber “grandes” e desconhecidos craques da bola, em uma insólita partida de futebol com o espetáculo Futebol na Perna de Pau, da Estandarte Cia de Teatro. De um lado, os palhaços do time dos “Pernudos” do outro os “Quebra Tudo”, cada um deles equipado com suas respectivas pernas-de-pau, medindo 80 cm. Dando início a uma turnê que prevê apresentações em todas as cidades sedes do evento esportivo, e com passagens por importantes festivais de teatro do país, o espetáculo leva o público ao delírio, com tudo que pede uma partida de futebol: lances sensacionais, replays, juiz ladrão, gandulas, risos, gargalhadas e, muitos tombos. 

Ainda no universo da palhaçaria, a Circunstância Cia. de Teatro apresenta o espetáculo De Mala às Artes. Contemplada pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2012 e com direção de Rodrigo Robleño (Circ Du Soleil), a peça é inspirada nas histórias de Pedro Malasartes. No espetáculo, os já conhecidos palhaços Alegria Também, Bambulino, Guimba, Rebimboca e Titica no Fubá contam histórias do famoso personagem Pedro Malasartes, reconhecido por zombar dos poderosos. Um espetáculo lúdico que pro meio da astúcia do personagem, leva o público a questionar o abuso do poder e da autoridade.

Da Matulandante - Mini Teatro Itinerante, o ator e diretor baiano Daniel Sapinência apresenta o espetáculo Kiri-Kerê em: A Batalha do Cricaré. Inspirado na história de colonização do Espírito Santo, empreendida pelos portugueses, traz no corpo de um contador de histórias alguns objetos sonoros e acessórios distribuídos entre pessoas da plateia, que aos poucos se tornam personagens do espetáculo. O espetáculo retrata um dos momentos de maior resistência indígena que se tem história no país. 

A Feira da Praça São Pedro abriga a intervenção Literatura a Quilo. Iniciativa da Editora Cousa e Editora Pedregulho, a intervenção leva para o público do festival um pouco da literatura produzida no Espírito Santo, com os livros de uma geração de escritores como Saulo Ribeiro, Caê Guimarães, Marcos Tavares, Sarah Vervloet e Marília Carreiro sendo vendidos à quilo, como frutas e legumes em uma feira.

Na música, a cantora chilena Cláudia Manzo, acompanhada de Los Chiquillos, apresenta o show “America Latina: por una mirada feminina”.  Dotada de uma musicalidade marcante e uma uma voz expressiva, o show apresenta uma releitura do repertorio latino-americano de grandes mulheres da historia da musica latina, além de composições próprias. 

Em um clima pré-carnavalesco, o grupo mineiro Banca do Distrito leva ao POCAR o melhor do Partido Alto e do samba de raiz com o projeto Hoje é Dia de Primeira, com o intuito de  difundir a produção musical contemporânea e, ao mesmo tempo, promover o samba tradicional, considerando as rodas de samba como uma rica fonte de troca de conhecimento entre músicos, comunidade local, turistas e amantes do gênero brasileiro em geral.

O POCAR guarda espaço em sua programação para reflexões e debates a respeito do Patrimônio Cultural capizaba. Em parceria com a Comissão Organizadora do EREA – Encontro Regional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Regional Leste (composta pelos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) – que acontece na Vila de Itaúnas em Abril próximo, promove o debate Patrimônio Material e Imaterial: para uma política pública de proteção e promoção no Espírito Santo. O evento contará com a participação da Secretaria de Estado da Cultura, do sociólogo Jefferson Gonçalvez e o arquiteto e urbanista Pedro Canal. O festival conta ainda com a exposição de charges Esboços de Um Cotidiano do chargista e jornalista paulistano Neto Medeiros. 

Assim como na edição passada, o POCAR – Festival de Cultura quer também fomentar as atividades culturais locais, abrindo em sua programação para artistas e manifestações folclóricas da região, como o Ticumbi, uma das mais importantes manifestações folclóricas do Espirito Santo que merece lugar de destaque na programação do festival. O evento conta com a apresentação do tradicional Ticumbi de São Benedito do Mestre Terto, com origens no Quilombo do Negro Rugério.

Confira a programação Completa da Segunda Edição do POCAR – Festival de Cultura



QUINTA-FEIRA – 20/02   

20h– “Cortejo Arruaça” - Estandarte Cia. de Teatro - Praça da Matriz ao Restaurante Casarão
20:30- ABERTURA OFICIAL- Local: Restaurante Casarão
- Jongo de São Cosme e Damião
- Abertura da Exposição “Esboços de um Cotidiano”, de Neto Medeiros
21h – Show  Cláudia Manzo e Los Chiquillos”
22h30- Espetáculo de Mágica “El Demonio de La Baraja”

SEXTA-FEIRA – 21/02     

9h às 12h- “Literatura a Quilo” - Saulo Ribeiro e Editora Cousa - Feira da Praça São Pedro
10h- “Como Surgiu Conceição da Barra” - Bate- Papo com Marco Antônio Campo Dall’Orto - Feira da Praça São Pedro
16h – Espetáculo “A Falta que a Flauta me Faz” - Ateliê do Titetê - Em frente à Igreja de N. S. da Conceição
18h – Espetáculo “De Mala as Artes” - Cia. Circunstância - Em frente à Igreja de N. S. da Conceição
20h30 – Esquete Teatral “Kiri-kerê em: A Batalha do Cricaré” - Cia. Matulandante - Restaurante do Pintinho
21h- Show “Toninho Xoxola e Fabíola” - Restaurante do Pintinho

22h30- Show “Trio Fogumano” - Restaurante do Pintinho


SÁBADO – 22/02

9h30 - “Café Tradicional do Quilombo: A Arte do Saber e Fazer” Com a Comunidade do quilombo Angelim I – Café Brasil / Vila de Itaúnas
10h - Mesa de Debates – “Patrimônio Material e Imaterial: para uma política pública de proteção e promoção no Espírito Santo” – Café Brasil / Vila de Itaúnas
11h30 - Esquete Teatral “Kiri-kerê em: a Batalha do Cricaré” - Cia. Matulandante - Café Brasil / Vila de Itaúnas
16h – Intervenção “Entre Memórias e Esquecimentos” - Cia. Repertório - Praça da Matriz
17h – Apresentação “Causo de Geraldo ou A Infinita História de Amor em 7 Noites de Lua Cheia” -Estandarte Cia. de Teatro - Em frente à Igreja N. S. da Conceição
18h – Apresentação “Ticumbi de Mestre Terto” - Em frente à Igreja N. S. da Conceição
19h - “Bate Papo no Cantinho da Leitura” - com Kátia Bobbio e Josmari.
- Lançamento de livros
- Grupo de Flauta Sabiá nas Dunas - Regente Valmar da Costa Graça
- Contação de Histórias
Local: Delícias da Maínha / Em frente ao Hotel Cricaré
21h – Show “Claudia Manzo e Los Chiquillos” - O Casarão do Cais
22h30 - Espetáculo de Mágica “El Demonio de LaBaraja” – O Casarão do Cais
23h – Show “Banda Plano Alto” - O Casarão do Cais

DOMINGO – 23/02

16h – Espetáculo “Futebol na Perna de Pau” - Estandarte Cia. de Teatro - Praça do Farol
17h - Show “Lívia Itaborahy e Banda” - Bar Rosicris
18h 30 - Samba de Encerramento - Bar Rosicris

*Intervenções Teatrais durante o festival com Daniel Sapiência, Palhaço Fidirico e Palhaço Confusão


Cia Estandarte
Atuando desde 2005, foi criada pelos atores Didito Camillo, natural de Conceição da Barra, Gustavo Pacheco e Marcelino Xibil. Tem como fonte de inspiração e pesquisa as manifestações artísticas de rua como o teatro mambembe, a música e as formas populares de comunicação e expressão. Vem se apresentando e produzindo eventos e espetáculos por todo o Brasil a exemplo de O Pescador Mentiroso, Causos de Brasêro, O Causo de Geraldo, Futebol de Perna de Páu e o show Jarcubas e Mocotós. Foi agraciada por diversas vezes com o Prêmio Funarte de Cultura.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A cultura gospel na Barra e as incongruências de interpretação



Há mais de 10 anos inaugurou-se em Conceição da Barra um formato de entretenimento para um público específico (os evangélicos) e que recebeu o sugestivo nome de Verão Jesus na Barra. À época, o segmento que notoriamente cresce vertiginosamente no País, existia mas não se fazia representar na Barra, realidade esta que veio mudando com a criação do Conselho Municipal de Pastores Evangélicos, o COMEC, uma outra conquista importante diga-se de passagem.

No entanto, vou me ater no presente texto, exclusivamente ao evento que vem sendo sempre motivo de questionamentos por parte da sociedade e em especial aos representantes do poder público municipal. 

O Verão Jesus na Barra, bem como as demais festas realizadas no município e que também vem sendo objeto de contestações, inclusive do ponto de vista legal, são manifestações culturais de uma cidade cujo principal produto é o turismo. Ao contrário do pensamento de alguns que alegam que o “poder público não pode financiar ou sequer participar financeiramente de eventos de cunho religioso”, tenho uma opinião contrária e que mereceria a defesa de quem decide sobre a realização de tais eventos, levando-se em conta o já citado “argumento turístico” para uma cidade que não tem outra vocação de maior peso, se não esta.

A “religião” que é o principal argumento para não se investir em eventos tais como o Verão Jesus na Barra, Festa de São Pedro, Festa de São João, Festa de São Sebastião ou outras manifestações que embora lembrem a religião mas são legitimamente “a expressão cultural de um povo”, não pode ser argumento para que o poder público não ofereça uma alternativa de turismo que não seja, por exemplo, os trios elétricos e o som ensurdecedor que atrai gente, mas também muitos problemas para a sociedade.

É preciso rever conceitos no que diz respeito sobretudo a um turismo que venha gerar emprego e renda em Conceição da Barra e que, de quebra, possibilite atrair turistas que tragam suas famílias para aproveitar o que a Barra tem melhor e admirar o quanto somos respeitosos para com as culturas existentes, sejam elas de que tendência for. Não vejo problema algum em uma cidade cuja potencialidade é o turismo investir em cultura, sabendo-se que a música gospel, por exemplo, já é considerada uma “expressão cultural” no Brasil.

Deixemos de lado os pré-conceitos e as posturas conservadoras que atravancam o nosso desenvolvimento e passemos a discutir os temas sob o ponto de vista do que será melhor para todos. Para mim o modelo de turismo que temos já venceu, pois se alguns acham que ganham dinheiro por 5 dias de folia, teríamos muito mais a ganhar atraindo gente durante todo o ano com eventos de cunho cultural e que neste caso está incluindo o Verão Jesus na Barra que historicamente atrai um bom público, quando realizado no ‘verão’ e não depois, e que não gera despesas com segurança e atendimento hospitalar, pois é reconhecidamente um evento pacífico e onde não há consumo de drogas e bebidas alcoólicas, muito menos incidentes que necessitem de atendimento médico-hospitalar.

Não faço uma defesa exclusiva ao Verão Jesus na Barra, mas a este e outros eventos de caráter cultural e que podem alavancar uma nova e moderna modalidade de turismo com foco nas famílias e na efetiva geração de renda para a cidade. Assim, ganhariam todos! 

É o que penso, salvo melhor juízo.