O título do presente artigo parafraseia o romance escrito por
Jô Soares que discorre de forma fictícia, divertida e interessante, um ponto de
vista sobre a morte do Presidente da República Federativa do Brasil, o ditador
Getúlio Dornelles Vargas. Como é sabido por todos, ou, pelo menos, por muitos,
Getúlio se suicidou no dia 24 de agosto de 1954 e o País viveu um dos dias mais
tristes de sua história política.
Porém o que quero registrar, ao mencionar a obra do famoso
apresentador de televisão, escritor, músico, ator, humorista, etc., é que o
poder tem seus encantos, na mesma proporção em que é sombrio, pois a obra de ficção,
como já disse, bem como outros livros que tratam da enigmática morte de
Getúlio, também alerta sobre a angústia de um homem condenado a fazer o que os
outros querem e não o que ele próprio achava correto fazer. No caso específico
de Getúlio, escolheu não fazer e para não fazer, optou pela forma mais cruel
consigo próprio para se livrar do problema, ou seja, tirar sua própria vida e,
diga-se de passagem, entrar para a história. Ele não precisava morrer para isso
(grifo meu).
Nos dias de hoje esse fenômeno ainda acontece, com maior
frequência do que podemos imaginar. Guardadas as devidas proporções, ainda nos
deparamos com situações semelhantes em que o poder provoca comportamentos
difíceis de avaliar, sob o ponto de vista puramente humano. O poder, se não
compreendido e exercido com a devida sabedoria, pode obrigar as pessoas que o
detém a fazer o que não querem, ainda que isto possa lhe custar caro. Tudo em
nome do poder.
Neste sentido, volto a me reportar à pergunta que faz o autor
do livro, Jô Soares, e que é o título do seu romance: Quem matou Getúlio
Vargas? A pergunta, embora direta, não se encerra em conhecer o nome da pessoa
que o matou (grifo meu), afinal, o ex-presidente suicidou-se, mas “o quê matou
Getúlio Vargas”?
Além das pressões que sofria de seus aliados políticos que na
iminência de perderem o poder (o ditador em seu segundo governo já não era tão
forte assim) não admitiam decisões que colocassem em risco seu grupo, e ainda
tinha na figura do jornalista Carlos Lacerda - um opositor implacável e fortalecido
politicamente após ter sofrido um atentado na Rua Tonelero, em Copacabana, 20
dias antes do suicídio de Getúlio – o homem que usaria de todo seu poder de oratória
e convencimento, para execrar Getúlio diante de uma decisão que viesse a tomar
contrariando, seja a oposição ou até mesmo, seus próprios aliados. Lacerda era
muito convincente em seus discursos.
A história deve ser observada como algo que é inerente à raça
humana e que contribui e muito para a vida na medida em que a consideramos como
fundamental para avaliar os atos que praticamos hoje. A história nunca deve ser
ignorada e nem muito menos considerada “apenas registros do passado”, mas algo
relevante e em cuja consulta está nossa possibilidade de poder avançar de fato,
ou, do contrário, retrocedermos praticando erros já cometidos antes.
Se você que se deu ao trabalho de ler este texto está
convencido de que já viu esse comportamento antes, em defesa do poder a
qualquer custo, não se surpreenda, isto é real em nossos dias. O homem que não
consulta a história e que portanto, não reflete sobre a mesma, está fadado a
repetir erros, erros tais como o que cometeu Getúlio Vargas, cuja ignorância à
qual foi acometido, em nome do poder, condenou-se à morte por seu próprio
orgulho em não reconhecer que acabou o poder, mas que a vida deveria continuar.
Querem uma sugestão? Cursem História, é sensacional!