sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O quê matou Getúlio Vargas?

O título do presente artigo parafraseia o romance escrito por Jô Soares que discorre de forma fictícia, divertida e interessante, um ponto de vista sobre a morte do Presidente da República Federativa do Brasil, o ditador Getúlio Dornelles Vargas. Como é sabido por todos, ou, pelo menos, por muitos, Getúlio se suicidou no dia 24 de agosto de 1954 e o País viveu um dos dias mais tristes de sua história política.

Porém o que quero registrar, ao mencionar a obra do famoso apresentador de televisão, escritor, músico, ator, humorista, etc., é que o poder tem seus encantos, na mesma proporção em que é sombrio, pois a obra de ficção, como já disse, bem como outros livros que tratam da enigmática morte de Getúlio, também alerta sobre a angústia de um homem condenado a fazer o que os outros querem e não o que ele próprio achava correto fazer. No caso específico de Getúlio, escolheu não fazer e para não fazer, optou pela forma mais cruel consigo próprio para se livrar do problema, ou seja, tirar sua própria vida e, diga-se de passagem, entrar para a história. Ele não precisava morrer para isso (grifo meu).

Nos dias de hoje esse fenômeno ainda acontece, com maior frequência do que podemos imaginar. Guardadas as devidas proporções, ainda nos deparamos com situações semelhantes em que o poder provoca comportamentos difíceis de avaliar, sob o ponto de vista puramente humano. O poder, se não compreendido e exercido com a devida sabedoria, pode obrigar as pessoas que o detém a fazer o que não querem, ainda que isto possa lhe custar caro. Tudo em nome do poder.

Neste sentido, volto a me reportar à pergunta que faz o autor do livro, Jô Soares, e que é o título do seu romance: Quem matou Getúlio Vargas? A pergunta, embora direta, não se encerra em conhecer o nome da pessoa que o matou (grifo meu), afinal, o ex-presidente suicidou-se, mas “o quê matou Getúlio Vargas”?

Além das pressões que sofria de seus aliados políticos que na iminência de perderem o poder (o ditador em seu segundo governo já não era tão forte assim) não admitiam decisões que colocassem em risco seu grupo, e ainda tinha na figura do jornalista Carlos Lacerda - um opositor implacável e fortalecido politicamente após ter sofrido um atentado na Rua Tonelero, em Copacabana, 20 dias antes do suicídio de Getúlio – o homem que usaria de todo seu poder de oratória e convencimento, para execrar Getúlio diante de uma decisão que viesse a tomar contrariando, seja a oposição ou até mesmo, seus próprios aliados. Lacerda era muito convincente em seus discursos.

A história deve ser observada como algo que é inerente à raça humana e que contribui e muito para a vida na medida em que a consideramos como fundamental para avaliar os atos que praticamos hoje. A história nunca deve ser ignorada e nem muito menos considerada “apenas registros do passado”, mas algo relevante e em cuja consulta está nossa possibilidade de poder avançar de fato, ou, do contrário, retrocedermos praticando erros já cometidos antes.

Se você que se deu ao trabalho de ler este texto está convencido de que já viu esse comportamento antes, em defesa do poder a qualquer custo, não se surpreenda, isto é real em nossos dias. O homem que não consulta a história e que portanto, não reflete sobre a mesma, está fadado a repetir erros, erros tais como o que cometeu Getúlio Vargas, cuja ignorância à qual foi acometido, em nome do poder, condenou-se à morte por seu próprio orgulho em não reconhecer que acabou o poder, mas que a vida deveria continuar.

Querem uma sugestão? Cursem História, é sensacional!

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