quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O quê de fato ameaça a democracia?

A ameaça à democracia tem sido um discurso recorrente no Brasil, principalmente após o pronunciamento inflamado do Presidente da República, Jair Bolsonaro, por ocasião das manifestações no dia 7 de Setembro. 

Embora tenha feito um gesto indicando que "não foi bem isso o que quis dizer", Bolsonaro distensionou o climão com o Poder Judiciário, principal alvo de seus ataques naquela ocasião, mas não convenceu a todos. O auxílio do ex-presidente Temer, nessa empreitada, foi crucial para o sucesso do gesto, inclusive.

No entanto, para a maioria dos analistas políticos o clima ainda é incerto, no que se refere à conduta do Presidente e a manutenção da democracia. A inconstância do Presidente faz com que qualquer comentarista tenha muita cautela para não cair em descrédito.

Mas tem outro ingrediente que pode ser muito mais nocivo à democracia e tem passado despercebido pelos analistas e comentaristas políticos, sobretudo pelo fato de ser inerente a totalidade da classe política brasileira e não apenas ao circuito que envolve o atual Governo.

A democracia pode estar ameaçada pela péssima qualidade na representação política e o Poder Legislativo, considerado o mais próximo do povo, tem dado demonstrações de que apenas a substituição de seus membros a cada 4 anos, não tem sido suficiente para resolver o problema. Tem-se a impressão que piora, a cada eleição.

Essa qualidade que deveriam ter aqueles homens e mulheres, eleitos pelo povo, para elaborar leis, fiscalizar o Poder Executivo e representar os anseios da população, se torna cada vez mais distante e em muitos casos, chegando a constranger a todos nós enquanto povo.

Querem um exemplo? Observem a CPI do Senado. Seus membros que são a nata da política brasileira, transformaram a Comissão Parlamentar num circo (aos olhos do povo) onde aqueles que ao se apresentarem para depor, no lugar de simplesmente responder aos questionamentos, dão aula a alguns parlamentares desavisados que pela postura e também palavras, não parecem conhecer a função do cargo para o qual foi eleito. Uma lástima.

Não vou entrar no detalhe sobre a que me refiro pois não caberia na estrutura textual que escolhi. A mensagem que quero transmitir é que se tem algo que realmente pode ameaçar a nossa democracia, passa bem longe dos discursos fantasiosos de um Presidente que esqueceu de descer do palanque depois das eleições. A principal ameaça são as pessoas desistirem da democracia dada à péssima qualidade na representação, uma vergonha nacional que se verifica do Oiapoque ao Chuí.

Quando não envergonham se vendendo, o fazem revelando um total despreparo para exercer essa atividade tão nobre e fundamental para o bom funcionamento do sistema democrático.

Neste ambiente que temos hoje, acredito que se não houver reformas que mudem os critérios de escolhas políticas, o povo não demorará a desprezar a democracia e chegará à conclusão que votar é pura perda de tempo, é enxugar gelo, correr atrás do vento, procurar piolho em calvo entre outras expressões populares que remetem ao mesmo sentido.

Espero que essas palavras sirvam de reflexão e que no lugar de desânimo, sejamos surpreendidos por uma resposta bacana no ano das eleições e que os partidos apresentem candidaturas que possam de fato merecer o nosso voto e com ele o fortalecimento da democracia.


Carlos Quartezani

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O perigo que nos ronda

O relato que farei brevemente aqui diz respeito a um discurso que ultimamente temos escutado, com certa regularidade e que preocupa na medida em que vem carregado de informações, às vezes descontextualizadas e em outras vezes, revelando pouco conhecimento sobre os fatos.

É preciso estabelecer uma comunicação com a sociedade em que a pauta seja a democracia. A falta ou a deficiência nesta conexão, auxilia na formação de conceitos equivocados e neste caso, até perigoso.

Se faz necessário explorar os fatos relatados na Comissão da Verdade (1998), relativos ao período em que o Brasil e a América Latina foram governados pelo Regime Militar, para que todos, em especial os jovens, possam fazer uma análise mais assertiva.

Até mesmo brasileiros simples e sem formação intelectual, foram vítimas de erros de quem estava obcecado pelo ódio, alimentados por uma paranóia Norte Americana na chamada Guerra Fria, pós Grande Guerra: O comunismo.

Em Conceição da Barra-ES, só para exemplificar, o Sr João Calatrone, esposo da saudosa Dona Naumir, foi uma dessas vítimas. Confundido com um sobrinho, estudante que à época foi morto na guerrilha do Araguaia, Sr João foi preso e quando conseguiu provar que não era quem eles pensavam, nunca mais voltou a ser o mesmo, vivendo embrenhado no mato com medo de ser preso outra vez.

Essas e outras histórias, que podem ser confirmadas no livro "Ditaduras não são eternas - Memórias da resistência ao golpe de 1964, no Espírito Santo" (Editora Flor&Cultura, 2005), precisam ser exploradas para que os jovens de hoje, entendam o perigo que nos ronda quando o assunto é o poder concentrado, como é o caso do Regime Ditatorial Militar.

Carlos Quartezani