A ameaça à democracia tem sido um discurso recorrente no Brasil, principalmente após o pronunciamento inflamado do Presidente da República, Jair Bolsonaro, por ocasião das manifestações no dia 7 de Setembro.
Embora tenha feito um gesto indicando que "não foi bem isso o que quis dizer", Bolsonaro distensionou o climão com o Poder Judiciário, principal alvo de seus ataques naquela ocasião, mas não convenceu a todos. O auxílio do ex-presidente Temer, nessa empreitada, foi crucial para o sucesso do gesto, inclusive.
No entanto, para a maioria dos analistas políticos o clima ainda é incerto, no que se refere à conduta do Presidente e a manutenção da democracia. A inconstância do Presidente faz com que qualquer comentarista tenha muita cautela para não cair em descrédito.
Mas tem outro ingrediente que pode ser muito mais nocivo à democracia e tem passado despercebido pelos analistas e comentaristas políticos, sobretudo pelo fato de ser inerente a totalidade da classe política brasileira e não apenas ao circuito que envolve o atual Governo.
A democracia pode estar ameaçada pela péssima qualidade na representação política e o Poder Legislativo, considerado o mais próximo do povo, tem dado demonstrações de que apenas a substituição de seus membros a cada 4 anos, não tem sido suficiente para resolver o problema. Tem-se a impressão que piora, a cada eleição.
Essa qualidade que deveriam ter aqueles homens e mulheres, eleitos pelo povo, para elaborar leis, fiscalizar o Poder Executivo e representar os anseios da população, se torna cada vez mais distante e em muitos casos, chegando a constranger a todos nós enquanto povo.
Querem um exemplo? Observem a CPI do Senado. Seus membros que são a nata da política brasileira, transformaram a Comissão Parlamentar num circo (aos olhos do povo) onde aqueles que ao se apresentarem para depor, no lugar de simplesmente responder aos questionamentos, dão aula a alguns parlamentares desavisados que pela postura e também palavras, não parecem conhecer a função do cargo para o qual foi eleito. Uma lástima.
Não vou entrar no detalhe sobre a que me refiro pois não caberia na estrutura textual que escolhi. A mensagem que quero transmitir é que se tem algo que realmente pode ameaçar a nossa democracia, passa bem longe dos discursos fantasiosos de um Presidente que esqueceu de descer do palanque depois das eleições. A principal ameaça são as pessoas desistirem da democracia dada à péssima qualidade na representação, uma vergonha nacional que se verifica do Oiapoque ao Chuí.
Quando não envergonham se vendendo, o fazem revelando um total despreparo para exercer essa atividade tão nobre e fundamental para o bom funcionamento do sistema democrático.
Neste ambiente que temos hoje, acredito que se não houver reformas que mudem os critérios de escolhas políticas, o povo não demorará a desprezar a democracia e chegará à conclusão que votar é pura perda de tempo, é enxugar gelo, correr atrás do vento, procurar piolho em calvo entre outras expressões populares que remetem ao mesmo sentido.
Espero que essas palavras sirvam de reflexão e que no lugar de desânimo, sejamos surpreendidos por uma resposta bacana no ano das eleições e que os partidos apresentem candidaturas que possam de fato merecer o nosso voto e com ele o fortalecimento da democracia.
Carlos Quartezani