domingo, 17 de outubro de 2021

A crueldade sem limites

Na madrugada de sexta feira para sábado, do dia 16 de outubro de 2021, no distrito de Braço do Rio em Conceição da Barra-ES, um crime bárbaro chocou a cidade e também a todo o Estado do Espírito Santo, que viram a trágica notícia pela TV e os outros meios de comunicação. 

Duas crianças, de 8 e 10 anos, foram assassinadas na sala de sua casa, enquanto dormiam e os acusados da barbaridade, que foram localizados e presos no mesmo dia, segundo as informações prestadas pelas autoridades policiais, têm entre 15 e 18 anos idade.

O acusado maior de idade, ainda não havia sido preso enquanto escrevo essas linhas, mas acredito que isto deve acontecer nas próximas horas. A polícia, do ponto de vista da investigação e identificação dos autores, trabalhou exemplarmente.

Mas, vamos ao meu objetivo principal da presente proposta de reflexão. 

A crueldade que está presente numa ação como esta sequer pode ser objeto de avaliação. Independente da idade dos autores, absolutamente nada justifica tamanha maldade ao praticar um crime como este. 

As crianças, efetivamente, além de serem inocentes, em todos os sentidos que a palavra remete, não são capazes de se defender, muito menos diante de uma arma de fogo. A pena máxima, é o mínimo que se pode exigir. 

No entanto, tentando pensar sob um ponto de vista mais, digamos, sociólogo, o que pode motivar seres humanos ainda tão jovens a terem um comportamento que revela tanto desprezo pela vida, deles próprios e do semelhante? 

O que nós enquanto sociedade estamos fazendo ou deixando de fazer para que atos como este ainda façam parte da nossa já difícil realidade?

Não tenho dúvidas de que a punição exemplar para casos como este é a maneira objetivamente justa de reagir, mas se não atentarmos para os sintomas que evidenciam esse tipo de doença na sociedade, estaremos tão somente remediando e a "doença" continuará matando e sem escolher classe social, gênero, credo, etnia, etc...

Não fechemos os olhos para a necessidade da construção de políticas públicas voltadas para a garantia da dignidade das pessoas, que as oportunizem, principalmente os mais pobres a enxergarem um futuro, do contrário, continuaremos apenas elegendo e reelegendo pessoas apenas para ocuparem o espaço público e não objetivamente, buscarem soluções para os problemas gravíssimos de caráter coletivo.

A Política, que muitos não entendem a sua importância e muitas vezes a desprezam, serve para que os que são escolhidos para nos representar, utilizem o poder a eles investido e exijam que os recursos públicos sejam direcionados para o aprimoramento dos indivíduos que são o que realmente importa na vida em sociedade.

Carlos Quartezani

Jornalista

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Filho de Professora

Sou filho de Professora e não por acaso me envolvo em tudo que possa, de alguma forma, despertar as pessoas para a busca do conhecimento. 

Acredito ser esta uma das mais sublimes expressões de amor ao semelhante, afinal, o que pode ser mais importante na vida de um ser humano senão descobrir como alcançar seus objetivos tendo a si próprio como protagonista?

Sim, o conhecimento não é algo que o impossibilita de criar vínculos com outras pessoas, para que o seu objetivo seja alcançado, mas é o que lhe torna capaz de escolher com assertividade, qual o perfil de pessoa que se encaixará melhor em seu projeto. Fazer boas escolhas, sobre quem irá lhe acompanhar, tanto na vida pessoal quanto profissional, é fundamental.

Além de filho de Professora, sou sobrinho de professores, primo de professores, amigo de professores e por fim, também sou professor, na medida em que além de me graduar em História, fui e sou incansável na missão de compartilhar aquilo que melhor entendo ser útil à vida de outras pessoas na sociedade.

Que missão pode ser mais nobre senão a que consiste em contribuir para que a luz do saber possa alcançar a todos? Por mais que tenha consciência da importância de outras profissões, não consigo encontrar nada que se compare ao Professor...

Minha homenagem nesse curto e sincero "bilhete" é para o Professor e em especial à minha mãe, Ana Maria da Costa Quartezani, professora, que desde a minha mais tenra idade, quando me levava para a sala de aulas por não ter recursos financeiros para remunerar uma babá, ao encontrar-se com pessoas conhecidas pelo caminho, perguntava logo após o cumprimento inicial:

- Seu filho (ou filha) está na escola?

Essa frase não me sai da cabeça e é por isto que acredito que sem o Professor, a escuridão seria parte de nossa paisagem, uma paisagem não condizente com a beleza da vida, o dom de Deus!

Obrigado professor! Obrigado, mamãe!!!


Carlos Quartezani

Jornalista

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

É tão estranho, os bons morrem jovens

O título dessa crônica é como se inicia a canção "Love in the afternoon" da banda Legião Urbana, cujo líder, Renato Russo, nos deixava aos 36 anos de idade, num dia como hoje, há 25 anos.

Jovem, exatamente como ele cantava, certamente não sabia se tratar de uma letra que homenageava a si mesmo. Mas, o destino assim estabeleceu e cedo demais, partiu deixando uma "legião" (com trocadilho, por favor) de fãs que se renovam, pois eu mesmo já tive o privilégio de cantar as mesmas canções junto com pessoas que tem menos da metade da minha idade.

Estamos vivendo "tempos estranhos" em que o brasileiro, mal orientado, perdeu a noção da importância da arte e seus referenciais. Tudo bem que houveram excessos e que por conta disso, perdeu-se a essência do que significa ter um ídolo, seja na música, no esporte, na dança, no teatro... Tudo isto muito útil, inclusive, para que as manifestações políticas tivessem um caráter mais ideológico e não uma "briga com foices" como que se observa hoje. 

Quando Renato Russo compôs "Índios", por exemplo, não precisou explicar o que ele dizia em sua marcante composição, a mensagem chegava até nós e como uma "tribo" que fazia guerra sem o uso de armas (de nenhuma espécie), atravessamos a difícil década de 80, do ponto de vista econômico e social, mas triunfamos na década seguinte, conquistando um país melhor com uma Constituição singular e uma moeda forte que abriu caminhos para outras conquistas. 

Cantamos "Que país é este?" indignados mas com a certeza de que o país que nos antecedeu, certamente era bem mais difícil de viver. Entoar uma canção como aquela, não era possível sem ser brutalmente repreendido pelo sistema autoritário e insano instalado no Brasil nas décadas anteriores. 

Sim, é preciso homenagear Renato Russo, que nesta mesma data, como eu já disse, em 1996, nos deixava definitivamente mas a sua obra, sua inteligência, sensibilidade e amor à arte, nos inspirou a todos a jamais desistir de nosso país e de celebrar sempre, a cada passo dado, buscando sempre ser melhores do que éramos e se for preciso, voltar atrás e fazer de novo, de um jeito de diferente, afinal, temos que seguir "sempre em frente, não temos a perder".


Carlos Quartezani

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Sobre o preço dos combustíveis e a ignorância política

O entendimento sobre a prática do "pensamento político" passa ao largo das maiores preocupações das pessoas, o que é perfeitamente natural dada a pouca ou nenhuma importância para a educação.

Se os princípios básicos da formação política fossem matérias obrigatórias no ensino público e privado, certamente teríamos uma melhor compreensão sobre as regras de mercado (incluindo o preço do petróleo e outros) e o papel do Estado, cujo modelo foi escolhido nas eleições.

Se o ódio não fosse a principal razão das escolhas políticas, teríamos a chance de entender como funcionam essas coisas e a internet não seria essa avalanche de bobagens que lemos diuturnamente.


Carlos Quartezani

Jornalista

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Toda insensatez deve ser castigada

O dicionário da língua portuguesa define o vocábulo INSENSATEZ como "próprio do que é insensato; falta de bom senso; imprudência; falta de juízo; loucura", enfim, algo que por si só não combina com uma ação que promova o bem do próprio indivíduo, muito menos de outras pessoas. 

Ser insensato, é bom que se frise, não configura crime, mas pode trazer efeitos danosos para quem assim age ou para outras pessoas, podendo, neste caso, ser interpretado como crime.

Um episódio que tomou conta dos mais diversos canais de comunicação no Estado do Espírito Santo, esta semana, foi a cerimônia realizada pela Câmara de Vereadores do município de São Mateus, no norte do Estado, por conta do aniversário da cidade. As informações que circulam dão conta de que foram gastos 170 mil reais para a realização do evento, para cerca de 400 convidados, cidadãos do município e também de fora dele.

Títulos de cidadão concedidos, medalhas distribuídas, um cardápio gastronômico para ninguém botar defeito, discursos homenageando a cidade e personalidades, marcaram o grande dia 25 de setembro de 2021, naquela que é uma das mais antigas cidades do Estado, com 477 anos.

Tudo perfeitamente legal conforme as regras que determinam os princípios da administração pública. Provisionamento orçamentário, licitação e contratação, exatamente como manda o figurino. Contudo, a INSENSATEZ, que não consta na letra da lei (a não ser pelo princípio da economicidade, mas é discutível) não foi observada no presente caso e o resultado é o escândalo e, mais uma vez, só para variar, a política sofre, sendo rejeitada pela população em virtude da velha mania de acharem que quem tem o poder, pode tudo.

Não, não pode. E as reações, especialmente num mundo conectado pelas redes sociais, foram imediatas e a fúria popular no tamanho certo.

Em meio ao caos vivido pela maioria do povo brasileiro, com inflação, desemprego, perdas precoces de vidas na família, por conta do Coronavirus, e um horizonte ainda incerto em relação ao futuro do país, tudo o que não precisamos é de atitudes de quem deveria representar o povo e o seus anseios, aja com esse nível de escárnio, zombaria e desprezo para com aqueles que com muita dificuldade, estão conseguindo colocar simplesmente o básico em sua mesa.

Hoje, dia 1o de Outubro, dia em que se celebra também o Dia do Vereador, peço uma sonora vaia ao Poder Legislativo do município de São Mateus, pela enorme INSENSATEZ cometida e espero que episódios como este não se repita e muito menos se espraie por outras Casas Legislativas da nossa região, estado e o Brasil.


Carlos Quartezani

Jornalista