Convencido de que o melhor a fazer era aceitar a oferta, afinal, estávamos a 270 quilômetros de casa, eu e a minha paciente – momentaneamente acometida por um câncer – em tratamento no Hospital Santa Rita, em Vitória, seguimos para um tal “albergue”, onde ficam hospedados aqueles (e aquelas) que por razões diversas, não podem pagar por um quarto de hotel.
Lá chegando, umas 3 horas da tarde mais ou menos, minha primeira surpresa: O local é lindo! Jardim bastante florido na entrada da “casa” e uma pessoa muito cordial recebendo os recém-chegados. Após as orientações de praxe, naturais para um local onde as pessoas que irão ficar necessitam de cuidados médicos - não sendo permitido, por exemplo, fumar e/ou beber no ambiente - fomos informados sobre o quarto e as camas que iríamos ocupar.
Por volta das 18h30m, temos um jantar simples mas feito com muito carinho pelos funcionários da “casa”. Após um breve descanso, somos convidados pelos responsáveis da hospedagem a participar de uma dinâmica, cuja finalidade é fazer com que nos conheçamos e passemos a conviver familiarmente, mesmo que a estada seja curta como a nossa, que precisamos apenas pernoitar no albergue. Outras pessoas, contudo, necessitam ficar a semana inteira.
O horário de dormir, embora não esteja escrito em nenhum lugar, é normalmente às 22h, quando os pacientes do Hospital Santa Rita e seus acompanhantes, vão se recolher para no dia seguinte, seguir para o Hospital onde passarão por mais uma sessão de quimioterapia, radioterapia ou outros exames.
Esta rotina é de quem vive nos municípios distantes da capital (Vitória) e precisam de tratamento contra o câncer. Mas o que me levou a escrever o presente texto, além de passar uma idéia de como é a vida de quem está com câncer e tem na hospedagem mais um fator de dificuldade, é registrar o quanto o ser humano pode ser bom e através da solidariedade, promover a esperança para aqueles que estão em condições tão difíceis, do ponto de vista físico e emocional.
O albergue que me refiro é uma entidade sem fins lucrativos chamada “Associação Albergue Martim Lutero”, existente há mais de 10 anos no bairro Tabuazeiro, em Vitória, e foi concebida através dos dízimos, ofertas e outros mecanismos de arrecadação, tais como rifas e similares, realizados pelos membros da Igreja Luterana da região Centro-Serrana do Estado.
Quando fomos convidados a participar de uma reunião onde a responsável pelo local daria explicações sobre o funcionamento da “casa”, as fontes que a mantém, entre outras informações, soubemos que os convênios existentes são mínimos, inclusive apenas quatro prefeituras (até o momento) se dispuseram a ser parceiras no projeto, além, é claro, do Hospital Santa Rita que mantém fielmente o convênio permitindo que pessoas que não sejam dos municípios não-conveniados, possam ficar no albergue, embora, é preciso torcer para que não esteja lotado no momento em que se solicita a hospedagem.
Um detalhe que me chamou a atenção é que a filosofia da Entidade é a de não fazer propaganda. A responsável pelo local chegou a dizer que se “evita” inclusive ajuda de políticos para que não queiram fazer disso um meio de angariar votos. Isto, talvez, explique o reduzido número de convênios com Prefeituras, sendo que as quatro que aceitaram tais condições, nunca tiveram os nomes dos respectivos prefeitos mencionados em nenhum lugar no albergue, ou fora dele.
A “obra” é da Igreja Luterana e os descendentes alemães dos municípios da região Centro-Serrana, tais como Itarana, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins entre outros, levam muito a sério esse trabalho e é de lá, desta região mencionada, que surgiu e surgem os recursos para a construção de tão abençoado lugar, bem como doações de alimentos, material de limpeza, etc... doações que o albergue aceita de qualquer pessoa que queira colaborar com o trabalho da Entidade.
Torçamos para que outras Prefeituras Municipais, empresas e pessoas físicas mesmo, despertem para esse tipo de trabalho e procurem a Associação Albergue Martim Lutero para oferecer qualquer ajuda. A mínima possível, já ajudará bastante a manter uma “casa” tão maravilhosa e que tanto bem faz às pessoas que estão necessitando de ajuda num momento tão difícil de suas vidas e longe, muito longe de casa!
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