quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Curso de Direito: perda de tempo?


João Baptista Herkenhoff
 
Registro sempre o e-mail nos artigos que publico. Esta conduta, de um modo geral, não é imposta pelas editorias dos jornais. Cabe ao articulista decidir se quer ou não quer franquear seu correio eletrônico aos leitores. Como decidi pela franquia, recebo muitas mensagens aprovando ou reprovando ideias defendidas, acrescentando observações que permitem o aprimoramento dos textos e também pedindo opiniões ou conselhos sobre os mais variados temas.

Quanto a aplausos ou desaprovações, eu os celebro com igual vigor pois tenho paixão pelo debate, desde a juventude.

Recebi há dias mensagem de um jovem manifestando insegurança quanto ao futuro. Seus pais têm recursos financeiros e se dispõem a pagar qualquer faculdade que ele queira frequentar. Mas ele não sabe que curso escolher. Matriculou-se no Curso de Direito para adiar a decisão mas teme que esteja perdendo tempo.

Eu o tranquilizei. Disse-lhe, antes de mais nada, que esta dúvida é comum nos jovens. Longe de ser um mal, as vocações tardias são muitas vezes um bem porque, quando despontam, despontam com firmeza e deixam para trás as vacilações. Sugeri que ele fizesse um teste vocacional. Há psicólogos e clínicas de Psicologia que prestam esse tipo de ajuda. Acresci que, a meu ver, ninguém perde tempo fazendo o Curso de Direito. 

De todos os cursos superiores é o mais universal, é o mais aberto a múltiplos saberes, é um curso que abre horizontes. Qualquer que fosse a rota que ele viesse a escolher (Medicina, Farmácia, Engenharia, Agronomia, Economia, Letras), os conhecimentos hauridos no curso jurídico seriam carreados para a área depois escolhida. A Faculdade de Direito proporciona uma cultura geral, uma visão cidadã que enriquece a personalidade, quando o ensino é orientado por uma perspectiva crítica, não dogmática.

Durante o tempo em que fui professor no Curso de Direito da UFES tive alunos que exerciam as mais diversas profissões: médicos, engenheiros, jornalistas, agrônomos, farmacêuticos, enfermeiros, psicólogos, psicanalistas etc. Muitos desses profissionais, ou quase todos, não cogitavam em mudar de ofício, mas apenas pensavam em enriquecer a formação profissional com uma tintura geral que a reflexão jurídica proporciona. Por outro lado a presença, na sala, desses profissionais já formados contribuiu sempre para melhorar o nível das aulas proporcionando um sadio intercâmbio de perspectivas e experiências.
 
João Baptista Herkenhoff é escritor, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e professor itinerante.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mudar prá quê?


O que mais ouvimos durante as eleições municipais em Conceição da Barra, foi o mote de campanha da chapa que sagrou-se vencedora e que por sinal, foi reeleita: “mudar prá quê?”

Toda mudança, de fato, traz transtornos. Mudar as coisas de lugar em casa, por exemplo, é chato, incomoda e os objetos já não são mais encontrados onde estávamos habituados a colocá-los. Contudo, como tudo na vida tem seus prós e contras, a mudança também proporciona prazeres e vantagens que vão muito além daquilo que imaginávamos. No caso da mudança de móveis e objetos em nossa casa, ao chegar, temos a impressão que fizemos uma grande reforma, quando, na verdade, foram apenas alterações de local onde ficavam os objetos, mas, que nos dão a sensação de estar vivendo em outro ambiente, o que de fato, nos traz satisfação.

Pois bem, voltemos ao “mudar prá quê”. A mudança, em se tratando de governo, é necessária e já explico o porquê. Sempre que estamos há muito tempo desenvolvendo uma determinada tarefa e os desafios já não são mais parte de nosso cotidiano, a tendência é que usemos este espaço conquistado, para, apenas, continuar nele. Ou seja: Somos insuflados a fazer de tudo para que continuemos ali, abrigados confortavelmente como se estivéssemos no pelo de um imenso coelho, longe do frio que faz lá fora (no nosso caso, o frio é apenas uma metáfora), nos distanciando cada vez mais do objetivo que nos fez chegar até ali.

Sempre fiz ressalvas quanto à Lei que permitiu no Brasil a reeleição. Se o trabalho for bem executado e no caso do espaço púbico governar tem características próprias, não podendo ser comparado a administrar uma empresa, o presidente, o governador ou o prefeito devem ter entre suas principais virtudes, a capacidade de preparar pessoas para sua sucessão, ou melhor, não apenas sucedê-lo, mas dar continuidade à sua filosofia de governo, defendendo com ações o modelo pelo qual se entende que deve ser um governo bom para todos.

No entanto, ao aprovarem a Lei da reeleição, o que percebo é que resultou em apenas uma vontade de continuar no poder, na base do custe o que custar, impedindo, inclusive, que outras pessoas penetrem no mundo da política, por entenderem que nunca conseguirão chegar lá, servindo apenas de escada para os que estão impregnados com os encantos do poder.

Mudar prá que? Para que haja possibilidade de outras pessoas, que são parte da sociedade em que vivemos, tenham oportunidade para colocarem em prática teorias que acreditam ser parte da solução para os muitos problemas que vivemos e que não serão resolvidos apenas com posturas ditatoriais, mas com diálogo e humildade, princípios imperativos para quem entra na vida pública. É o que penso, salvo melhor juízo. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Amor de Verão


Esta é a expressão que mais combina com Conceição da Barra: Amor de verão! Não apenas pelas letras musicais elaboradas pelos poetas, mas, de fato, pela paixão que ela desperta, sobretudo para quem a conhece ou vem revê-la nos dias mais quentes do ano.

O clima de festa que contagia boa parte da população tem outros estímulos tais como a oferta de trabalho e a expectativa de alugar bens móveis ou imóveis e assim conseguir pagar contas atrasadas, o material escolar dos filhos, etc... Mas essa euforia, que já foi maior em outros tempos, é perfeitamente compreendida e tem um fim e este” fim” é sempre mais breve do que conseguimos assimilar, exatamente como o amor de verão.

As festas natalinas, a virada de ano e os dias de verão que antecedem o carnaval - e o próprio carnaval - dão uma sensação de que vivemos numa cidade próspera, capaz de suprir todas as necessidades de quem queira viver aqui. Não faltam alternativas de produtos ou serviços, apesar do preço estar sempre além do esperado, o que não é novidade nas cidades litorâneas Brasil afora, embora isto não justifique os abusos.

Contudo, essa incrível sensação de que vivemos num paraíso, se transforma drasticamente na primeira semana após o carnaval. Os turistas vão embora e o que fica é apenas a conta para pagar. Os investimentos feitos na coleta de lixo, nos plantões médicos, nos show’s artísticos e mais uma infinidade de outros gastos são compensados, infelizmente, com arrocho por parte da administração municipal que descarrega tudo isso na política salarial equivocada e injusta na “indústria” que é a responsável, praticamente, pela movimentação econômica de uma cidade de veraneio como a nossa, na maior parte do ano: O servidor público.

Não que eu concorde que o serviço público seja a mola propulsora da economia local. Penso que algumas ações da atual gestão, embora sempre executada de forma abrupta e sem consulta à sociedade, nos dará, num futuro de médio ou longo prazo, condições de fazer com que outras alternativas econômicas surjam e supram essa lacuna. Mas para isso é preciso que a sociedade esteja envolvida. Opinando, debatendo e apresentando sugestões para os problemas que atingem de forma diferente mas a todos que querem continuar vivendo em Conceição da Barra.

Acho que o governo municipal, voluntariamente ou não, deu um passo importante para que façamos uma reflexão sobre o que queremos em termos econômicos para a Barra. Os “erros” cometidos, tiveram seu ponto positivo. Os baixos índices de crimes registrados, embora havendo uma morte (pós-carnaval), já representa um bom sinal para quem quer resgatar um turismo que contemple o turismo familiar, ou seja, pessoas que permanecem na cidade por mais tempo e que se preparam para gastar, o que não ocorre com o turista que atualmente vem para cá, sobretudo, no carnaval.

Ainda há muito por avançar e não podemos nos furtar de avaliar todos os aspectos do verão e carnaval barrense para construirmos uma ideia que se aproxime daquilo que todos querem: Uma cidade próspera e que saiba otimizar seus pontos fortes.

Amor de verão? Não. Precisamos de um amor eterno, duradouro e que abra os horizontes para quem sonha em morar numa cidade boa, pacata e com oportunidade para todos, em especial, nossos jovens.