sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Mandela e a política



Por Paulo Hartung - Ex-governador do ES

“Líder sul-africano não se apegou ao rancor,
consolidando-se com suas atitudes de estadista
como um líder global do século XX”

O ano de 2013 está chegando ao fim. É tempo de olhar em retrospectiva, mas também de focar a visão na perspectiva de uma nova jornada a ser iniciada. Nesse sentido, vou falar de uma personalidade cuja morte marcou este ano que finda, mas que se manterá como um farol na caminhada civilizatória que empreendemos sem descanso.

Trata-se de Nelson Mandela, líder que honrou os fundamentos da verdadeira política. Ao falar desse tema, sempre recorro ao saudoso geógrafo Milton Santos, para quem a política é “a arte de pensar as mudanças e torná-las efetivas”.

Mandela foi e sempre será lembrado como um símbolo da ação política em favor da mudança, rumo ao avanço da civilização. Mandela foi um guerreiro das ideias, valores e palavras. Nas prisões do apartheid durante inacreditáveis 27 anos, no comando da África do Sul como primeiro presidente negro da nação, e na militância pós-presidência, constituiu trajetória de posições firmes contra a segregação e a injustiça, mas sempre pautado pela crença conciliatória.

No poder, foi o artífice da reconciliação num dos mais ilustres exemplos da capacidade política de promover transformações históricas emancipatórias. Eleito pela maioria, não se apegou ao rancor, consolidando-se com suas atitudes de estadista como um líder global do século XX. Conforme relatou a imprensa, em 1964, diante de um tribunal em Pretória, o líder sul-africano disse: “Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu valorizo o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com as mesmas oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver para ver realizado. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual eu estou pronto para morrer”.

Uma sociedade livre, democrática e fraterna, com acesso igualitário às oportunidades é o ideal que move a política democrática e republicana. Mandela não viveu para testemunhar a plena transformação desse ideal em realidade na sua África Sul, nem no mundo como um todo. Mas Mandela ajudou seu país e o mundo a avançar nessa direção, deixando um exemplo de que os ideais fazem movimentar a história e de que vale a pena lutar por eles.

Prestes a se iniciar um novo ano, vale lembrar que a batalha pelo avanço civilizatório se mantém aqui e ao redor do planeta. A iluminar o dia a dia de todos aqueles que acreditam e trabalham por um mundo cada vez melhor está o exemplo de Mandela, que dedicou a vida à política naquilo que ela tem de mais essencial, a potência de realizar mudanças.

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