quinta-feira, 29 de maio de 2014

Setor norte da orla na Barra sofre com avanço do mar e descaso

Quem conheceu a Barra antes das obras de contenção da orla executadas pelo governo estadual anterior, diria que realmente estávamos fadados ao desaparecimento. Pelo menos, na parte atingida pelo mar.

No entanto, com a força popular, o empenho de empresários e o setor político local, resultou numa fantástica obra que possibilitou a proteção da cidade, sobretudo sua área histórica que contempla a Igreja Matriz entre outros prédios e residências que contam sua história, não apenas dos 123 de emancipação política, mas desde os tempos em que éramos apenas “Barra de São Mateus”.

De fato, foram R$60 milhões de reais que fizeram com que a esperança voltasse a fazer parte do vocabulário barrense. Coube ao ex-governador Paulo Hartung, ser o autor de uma das mais importantes obras de nossa história. Entretanto, é preciso relembrar que tal investimento, bem como, todo investimento feito por um governo, requer o acompanhamento e manutenção e esta responsabilidade cabe aos que o sucedem, pois é obra de governo e não de uma pessoa.

No nosso caso, o da orla, estamos vivendo um problema – no setor norte – que poderia ter sido evitado, se o governo atual (e me refiro ao municipal e estadual), tivesse cumprido o seu verdadeiro papel. Ao governo municipal atribuo o descaso e  ao estadual, o olhar insensível por se tratar, acredito, de uma obra do governo anterior e não é novidade para ninguém que “eles” não gostam de enfeitar o pavão alheio, preferindo obras com suas próprias digitais.

Penso que se não mudarem essa postura e olharem para os problemas enxergando pessoas e o seu patrimônio conquistado com muito trabalho e dignidade, na corrida de bastão que é a gestão pública, sairemos sempre derrotados. Espera-se responsabilidade de quem governa uma cidade, um estado ou um país, e posturas apequenadas pela vaidade só atrapalham o nosso desenvolvimento, tanto econômico quanto social.


O setor norte da orla de Conceição da Barra está ameaçado e com ele pousadas e residências de pessoas que também lutaram pela obra que resultou na revitalização do centro histórico. Portanto, que nos unamos em favor dessas pessoas e forcemos o poder público, em todas as esferas, a fazer a intervenção que sem dúvida nenhuma, requer recursos muito pequenos se comparados ao que já foi feito pelo governo anterior.

domingo, 25 de maio de 2014

Um ginásio inteiro de prepotência

Famosa por ter criado uma página no facebook para denunciar o descaso do poder público em relação à escola que estudava, a catarinense Isadora Faber, publicou um livro no qual narra sua experiência e o quanto sua vida mudou depois de sua iniciativa que gerou conquistas, mas, muitas agruras no relacionamento com professores, alunos e demais integrantes da escola. O livro tem por título “Diário de Classe – A Verdade”, tem 272 páginas e é uma publicação da Editora Gutenberg.

Jovem e determinada, Isadora é um exemplo de que não é o silêncio que permite mudar a nossa realidade. Em seu depoimento, muitos pontos são interessantes mas o que me levou a escrever esse artigo é sua declaração a respeito do que dizia a direção da escola quando ela questionava as razões das maçanetas quebradas, portas dos banheiros que não fechavam, pintura deteriorada, enfim, uma escola “detonada”, concluía Isadora. A diretora simplesmente explicava que era “culpa da licitação”.

Alguma semelhança com o que vemos em Conceição da Barra, inclusive em relação à falta de medicamentos? A “licitação”, essa desculpa esfarrapada que me faz lembrar o argumento dos bancários quando não se consegue fazer um simples pagamento de um boleto e logo dizem “o sistema está fora do ar”, para mim não faz o menor sentido, uma vez que se o processo licitatório é fundamental, é preciso antecipar os procedimentos para que não seja necessário utilizá-la como desculpa pela incompetência na gestão pública.

No caso específico da garota destemida de Santa Catarina que utilizou a internet para conseguir chamar a atenção de um problema que não é uma exclusividade daquela cidade, ela informa que apesar de não mais estudar lá, tem registros de que uma semana após suas denuncias terem ganhado a grande mídia, a escola foi reformada. A desculpa da licitação foi resolvida em tempo recorde. Mas será que é preciso alguém dizer o óbvio para que problemas como este não custem tanto para a comunidade e em certos casos, até mesmo a população inteira de uma cidade?

Particularmente, venho cobrando do governo de Conceição da Barra providências em relação às obras intermináveis do Ginásio de Esportes que desde 2009, não funciona. Entre outros problemas de gestão existentes, venho utilizando inclusive do envio de notas em jornais de grande circulação no Estado, tal qual o jornal A Gazeta, para denunciar este descaso. Contudo, o setor de Comunicação da Prefeitura, ao responder ao jornal acerca de uma das queixas que registrei, utilizou palavras e acusações contra mim que de longe lembram a verdadeira função de um setor como este. Lamentável e inexplicável pois ainda estamos sob o regime democrático e é legítimo que o que é público esteja sujeito a críticas.

Por fim, espero que essas palavras estejam chegando àqueles que me lêem como ventos que sopram pela cidadania e saibamos que temos direitos e que se não os provocarmos, como fez a Isadora de Santa Catarina, estaremos mergulhados cada vez mais fundo no submundo da ditadura que é a marca do governo que infelizmente reelegemos em Conceição da Barra.


terça-feira, 13 de maio de 2014

A picuinha legislativa a serviço da desonra

Tive o privilégio de estar na Sessão Solene realizada no dia 08 de Maio, próximo passado, na Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, proposta pelo deputado estadual Paulo Roberto. O objetivo era homenagear os 60 anos da Universidade Federal do Espírito Santo, criada em 1954 e federalizada em 1961, um dos últimos atos do Presidente da República, Juscelino Kubitscheck, antes de deixar o mandato.

Fiquei particularmente satisfeito em estar presente num evento, no qual o Poder Legislativo cumpria um de seus papéis que considero mais legítimo: Honrar a sociedade, representada por pessoas ou Instituições. Neste caso, uma Instituição respeitada e responsável pela formação de centenas de profissionais que já acumulam em seus currículos importantes contribuições no campo da engenharia, artes, literatura, medicina, ciências, política, etc... inclusive, na oportunidade, algumas dessas personalidades, ex-alunos da Ufes, foram homenageadas também, como forma de reconhecer, na prática, o quanto essa Instituição de Ensino foi e é importante para o nosso Estado.

Entretanto, nessas minhas mal traçadas linhas vou me ater a um foto negativo dentre os tantos positivos numa Sessão que contou com pessoas ilustres tais como o ex-governador Paulo Hartung, o Reitor da Ufes Reinaldo Centoducate, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Álvaro Burguiñon, o presidente da OAB-ES, Homero Mafra , o presidente do PMDB capixaba e deputado federal Lelo Coimbra, entre outros.

Lamentavelmente, uma Sessão Solene proposta e realizada por um dos membros da Casa Legislativa capixaba, não contou com a presença de nenhum outro deputado estadual. O presidente da ALES, o deputado Theodoriço Ferraço, não estava no recinto e nem muito menos justificou sua ausência, fato que este atento convidado e vindo de longe, percebeu na medida em que nenhuma palavra do cerimonialista foi colocada neste sentido e que explicasse a ausência de sua Excelência. Faço justiça apenas à deputada e ex-aluna da Ufes, do curso de Direito, Luzia Toledo, que embora também ausente, encaminhou votos de felicitações à Instituição.

Que a Política anda distante da agenda das pessoas, isto é um fato e sabemos inclusive suas razões. Porém, o que não podemos é assistir aos representantes do povo, pessoas em quem votamos para serem a nossa voz, não cumprirem uma de suas principais prerrogativas que é o reconhecimento do trabalho de pessoas e Instituições do nosso Estado. A ausência de todos os deputados estaduais na Sessão Solene foi interpretada como “normal” pelas pessoas que estavam presentes e o argumento é de que “ninguém quer dar palanque para ninguém, sobretudo em momentos que antecede o período eleitoral”. 


Parabenizo aqueles que se dispuseram a estar presentes na Sessão Solene que homenageou os 60 anos da UFES e lamento que quase toda a Casa Legislativa perdeu a oportunidade de participar da honra merecida, em detrimento da vaidade e do interesse pessoal, algo que não combina com os princípios que deveriam reger a democracia aqui ou em qualquer outro País do Mundo.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Gesto profético

 
                                                          João Baptista Herkenhoff

 
          Um trabalhador foi assassinado em Vitória, fato que já não é notícia, nestes tempos de violência institucionalizada, que vitima principalmente as classes populares.Notícia de grande repercussão foi o que aconteceu depois.

          O homicídio do trabalhador ocorreu na Rodovia Serafim Derenzi, na altura do Bairro Conquista, na Grande São Pedro. O corpo do operário estava estendido na estrada. Justo naquele momento passava pelo local uma procissão que deveria terminar na igreja paroquial para que então fosse celebrada a Missa do Domingo de Ramos.

          Entretanto, o pároco local – Padre Kelder José Brandão Figueira, interrompendo a procissão, decidiu celebrar a Missa na estrada mesmo, ao lado do corpo, para solidarizar-se com a família do pedreiro e, ao mesmo tempo, denunciar a injustiça social causadora de um fato chocante como aquele.

          Quando tomei conhecimento do gesto do Padre Kelder, fui tomado de grande emoção, emoção ainda mais forte porque o padre foi meu aluno no Curso de Direito da UFES.

Como reduzi, por questões de saúde, as saídas de casa e a consequente comunicação face a face, a internet vem me socorrendo na necessidade de manifestar sentimentos.

A respeito do episódio que envolveu o Padre Kelder, mandei dezenas de e-mails para pessoas amigas e recebi a devida resposta às mensagens remetidas.

Uma das missivistas – Maria José, cujo nome completo omito por não ter autorização dela para fazer o registro, ponderou com acerto que se o Padre não tivesse interrompido a procissão, ocorreria a repetição da Parábola do Bom Samaritano, bastante conhecida mas que cabe recapitular neste artigo.

Um homem descia de Jerusalém em direção a Jericó, mas caiu nas mãos de salteadores que o despiram e espancaram. Passou pelo caminho um sacerdote e nada fez. Passou um levita e fechou os olhos. Finalmente um samaritano teve compaixão, debruçou-se sobre o desconhecido e tratou-lhe as feridas. (Evangelho segundo Lucas, capítulo 10, versículos 30 a 37).

Os tempos de hoje demandam a Profecia. Não afinam com os desafios do presente os discursos frios, impessoais, supostamente neutros, supostamente apolíticos, que agradam a gregos e troianos, bem comportados, antenados com o sistema.

Parabéns ao Padre Kelder por seu gesto profético!

Bastava ter tido este aluno, bastava ter cruzado meu caminho com o caminho deste padre samaritano para ter valido a pena ter sido professor na UFES.
 
João Baptista Herkenhoff é juiz de Direito aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor.