Há muito ele nutria o que pensava se tratar de um amor platônico, um sentimento que jamais seria correspondido. Ela, por sua vez, filha do Prefeito e sempre rodeada de amigos, ainda não percebera que o garoto de estatura baixa para os padrões locais, sardas no rosto e cuja família descendia de pescadores da pacata cidade litorânea onde viviam, era um de seus admiradores mais determinados em transformar o que era um sentimento apenas seu, em algo mútuo. Ele estava disposto a tomar a iniciativa e o faria de modo singular e marcante.
Uma mensagem enviada por ele e que chegara a ela pelas mãos do zelador da escola - aquele homem sombrio mas que na realidade se tratava de alguém de bom coração, cujo defeito era não conseguir exteriorizar essa virtude, seja por sorrisos ou cumprimentos cordiais - balançou o seu coração. Quis saber quem poderia ser o autor de tão belas palavras dirigidas a ela.
As palavras, escritas no papel simples, dobrado com zelo e cheio de significado, já que dispensou o uso dos mecanismos modernos de comunicação, encantou-a e de imediato decidiu que atenderia ao convite do misterioso admirador, cujo encontro deveria acontecer no vão lateral do pátio da escola onde estudavam.
Ao avistá-la, emocionado e feliz, porém tenso, ele teve a certeza de que ao contrário do que imaginara, ela também nutria carinho por ele e suas palavras, embora não assinadas, mas escritas tão docemente numa folha de caderno, a conquistaram, provocando o seu desejo de saber quem seria o autor.
Sem muitas palavras mas com os corações acelerados pela emoção de terem se descoberto como admiradores um do outro, aproximaram-se e num clima perfeito, criado pela própria natureza - um céu azul, o sol que brilhava e o vento que chegava sereno, e ninguém por perto para interrompê-los -, um beijo de cinema aconteceu e a partir daquele momento, uma bela história de amor marcaria a vida de ambos, para sempre...
(*) Carlos Quartezani