terça-feira, 23 de novembro de 2021

Sem pânico e com esperança

A cidade que os meus pais nasceram, e eu também, cuja história remonta alguns séculos se considerarmos que antes de sua emancipação (1891) já não só existia, mas era importante economicamente com a produção da farinha de mandioca, consolidou-se como um destino turístico dos mais procurados, tanto por capixabas quanto por, principalmente, mineiros, o nosso gigante Estado vizinho.

Na década de 80, quando se popularizou o axé music e junto com ele os trios elétricos, Conceição da Barra-ES viu crescer sua importância também neste segmento e passou a ser destaque na mais importante festa popular do Brasil, trazendo gente de diversas partes do país para curtir o Carnaval. 

Há alguns anos, porém, essa grande festa que atraia gente e consequentemente emprego e renda, sofreu alguns baques, seja em razão do avanço do mar (que inclusive ainda traz transtornos em uma outra faixa de praia) ou pelas ocorrências envolvendo a extração de minério de ferro em Minas, que resultou no derramamento de dejetos tóxicos que ao descer pelo rio, desaguou em parte das praias capixabas, incluindo Conceição da Barra.

Como se não fosse suficiente, minha bela e histórica cidade sofreu mais um revés. Com a pandemia que espalhou a doença respiratória Covid-19 e a obrigação das autoridades em decretar o isolamento social, aquele que era um importante ganha pão do povo barrense, escapou por entre os dedos e diluiu a esperança que já florescia, principalmente com o sucesso anual do Festival do Camarão e da Maior Moqueca do Mundo, dois grandes eventos que devolveram vigor ao setor.

Pois bem, o que desejo ao fazer essa breve recapitulação dos fatos em Conceição da Barra, no que diz respeito ao turismo, é para que as pessoas não esqueçam que essa atividade não é um mero capricho o qual podemos a qualquer momento deixar de lado. É um segmento econômico importante e que requer de todo cidadão uma visão de longo alcance, além, é claro, de uma conduta que faça o visitante se sentir bem e querer retornar. 

Todos deverão estar vacinados e não é necessário pânico. A vida precisa continuar e o Turismo na Barra, há de outra vez, vencer.

Carlos Quartezani

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O suicídio banalizado... Até quando?

As imagens são fortes. A pele fina denuncia que os braços, com marcas de quem tentou o suicídio, são de uma pessoa bem jovem, ficando mais claro nas palavras da educadora que relatou o fato, sem, é claro, revelar o nome do jovem.

Mas, o que mais comove e preocupa principalmente, é o motivo que o levou a essa atitude drástica, revelada com muita tristeza pela profissional que montou o relato, com fotos dos braços do menino, e o encaminhou para as mais diversas representações da sociedade, políticas ou não. 

O jovem, que por obra e graça de Deus não conseguiu o que queria - suicidar-se - disse que o que o levou à tamanha violência contra si próprio, foi por não conseguir um trabalho, para ajudar a família no maís básico: Alimentarem-se.

A mãe, segundo o relato, teria vendido a bicicleta para comprar leite para o mais novo dos 5 filhos. Um entre tantos casos espalhados pelo Brasil afora.

De certa forma, já era esperado comportamentos dessa natureza, sobretudo dos mais jovens, durante esse período pandêmico. A economia retraída associada a uma base social estruturada mais no ter do que no ser, geraria esse caótico resultado, infelizmente.

Não estou surpreso, mas admito: É muito duro assistir a tudo isto e continuar lendo no noticiário que os políticos procedem da mesma forma, como se tudo isto que está acontecendo, não fosse um problema. Não entrarei em detalhes. Fica por conta do leitor este aspecto.

Me sinto de mãos atadas em saber que o único segmento que poderia (e deveria) prever essa catástrofe - refiro-me ao setor político - está preenchido por pessoas que quando não estão exclusivamente focadas no lado financeiro da atividade, são inteiramente incapazes intelectualmente de promover as ações necessárias, para no mínimo amenizar o que está acontecendo. 

Orçamento público por exemplo, é para ser debatido com o olhar de quem sabe o que a população mais precisa e não simplesmente o que ela quer. Em muitos casos, o que ela quer é muito mais caro do que o que ela precisa, mas falta coragem, no mínimo, aos representantes políticos para fazerem esse enfrentamento. 

Relembrando uma frase que um político barrense me dirigiu certa feita "Você está falando de um buraco, um buraco bem fundo", me deixa muito triste, pois sempre nutri a esperança de que esse buraco não fosse tão fundo.

O "Dom Quixote", aquele personagem incrível da literatura clássica, criado por Miguel de Cervantes, que insistia com a sua loucura em acreditar ser possível um mundo melhor, apesar da enorme dificuldade em isto se concretizar, teria ainda dificuldade com o mundo de hoje. Explicarei essa comparação, a seguir.

Ao longo de alguns anos venho tentando ajudar minha cidade, seja com a minha participação efetiva no processo eleitoral, escrevendo crônicas como esta aqui ou fazendo parte dos Conselhos Municipais, os quais deveriam ter um papel mais preponderante na sociedade. 

No entanto, chega uma hora em que a gente se sente cansado. Cansado em ver o correto sendo sufocado pelo oportunismo... O "Dom Quixote" vai desaparecendo, ficando apenas a certeza de que o caos é irreversível e que lutar é em vão e o buraco é muito mais fundo do que imaginamos.

Que essas palavras possam além de tocar corações e mentes, também despertar os que tem o poder de decisão, para ficarem alertas aos sinais que estão sendo emitidos.

O suicídio de jovens, numa cidade tão pequena porém tão querida, principalmente por quem gosta de visitá-la nos feriados e na temporada de verão, não registre nas páginas de sua história o extermínio de parte de seu povo, cuja motivação foi a desesperança, gerada pelo descaso.


Carlos Quartezani

sábado, 13 de novembro de 2021

Turismo e vacina são inseparáveis

Aproxima-se o período em que as cidades que recebem turistas para a temporada de verão, vêem aumentar suas expectativas de faturamento e com isto, a geração de vagas de emprego e maior renda.

Minha cidade, Conceição da Barra, no norte do Estado do Espírito Santo, é uma delas. É assim: funciona como se fosse uma colheita, período no qual o "agricultor" se fortalece para aguardar o inverno, quando o produto da terra está em uma espécie de gestação.

A nova administração municipal, chefiada pelo prefeito Walisson Vasconcelos, o Mateusinho, tem como meta atrair grandes públicos para essa temporada e para isto conta com o trabalho do prestigiado empresário do ramo de restaurantes e hoje Secretário Municipal de Turismo, Roberto Malacarne, que promete fazer do balneário um palco de grandes e inesquecíveis eventos, já tendo firmado pré-contratos com artistas renomados da música popular brasileira.

No entanto, ainda há dúvidas sobre como ficarão as normas de conduta estabelecidas pelos órgãos de Saúde estadual e municipal, em relação as medidas preventivas contra a Covid-19, doença que já matou mais de 600 mil brasileiros desde o seu início, em março do ano passado.

No momento, o mapa que traça o nível de risco e por consequência falta de leitos de UTI para infectados, encontra-se baixo, permitindo assim a movimentação normal de turistas no balneário.

Como já era de se esperar, o resgate desse modelo de temporada de verão que consiste em aglomerar muitas pessoas em eventos gratuitos, uma parcela da população tem se mostrado preocupada, receiosa que tal movimentação, além de demonstrar desrespeito aos parentes e amigos das vítimas da doença, possa também ampliar o risco de outros casos na cidade.

Preocupação pertinente, mas que tem solução. Exceto a questão que envolve o sentimento de quem perdeu um ente querido ou amigo. Mas, a vida segue.

Com o avanço da vacinação e que segundo os levantamentos, tem sido a responsável pela redução dos casos, o município de Conceição da Barra pode estabelecer uma regra que além de oferecer segurança aos cidadãos locais, poderá também demonstrar para o turista que a cidade está efetivamente engajada na proposta de combater a proliferação da doença e garantir diversão segura para as famílias.

O que se poderia adotar como medida preventiva é que para ter acesso à cidade, cuja entrada por terra é exclusiva, os turistas que comprovarem terem tomado pelo menos uma das doses do imunizante, oferecido pelo Ministério da Saúde. Essa medida, que certamente terá o apoio de todas as autoridades, bem como da população, permitirá uma sensação de segurança e a certeza de que o município se preocupa com seus cidadãos e a quem nos visita.

Espero que a minha sugestão seja considerada e que Conceição da Barra possa dar um passo importante rumo ao resgate do turismo e da fama de outrora, quando ficou conhecida como a cidade capixaba cujo carnaval era o mais animado do Estado. Agora, contudo, além de animado, seguro e pronto para receber a todos.

Carlos Quartezani