As imagens são fortes. A pele fina denuncia que os braços, com marcas de quem tentou o suicídio, são de uma pessoa bem jovem, ficando mais claro nas palavras da educadora que relatou o fato, sem, é claro, revelar o nome do jovem.
Mas, o que mais comove e preocupa principalmente, é o motivo que o levou a essa atitude drástica, revelada com muita tristeza pela profissional que montou o relato, com fotos dos braços do menino, e o encaminhou para as mais diversas representações da sociedade, políticas ou não.
O jovem, que por obra e graça de Deus não conseguiu o que queria - suicidar-se - disse que o que o levou à tamanha violência contra si próprio, foi por não conseguir um trabalho, para ajudar a família no maís básico: Alimentarem-se.
A mãe, segundo o relato, teria vendido a bicicleta para comprar leite para o mais novo dos 5 filhos. Um entre tantos casos espalhados pelo Brasil afora.
De certa forma, já era esperado comportamentos dessa natureza, sobretudo dos mais jovens, durante esse período pandêmico. A economia retraída associada a uma base social estruturada mais no ter do que no ser, geraria esse caótico resultado, infelizmente.
Não estou surpreso, mas admito: É muito duro assistir a tudo isto e continuar lendo no noticiário que os políticos procedem da mesma forma, como se tudo isto que está acontecendo, não fosse um problema. Não entrarei em detalhes. Fica por conta do leitor este aspecto.
Me sinto de mãos atadas em saber que o único segmento que poderia (e deveria) prever essa catástrofe - refiro-me ao setor político - está preenchido por pessoas que quando não estão exclusivamente focadas no lado financeiro da atividade, são inteiramente incapazes intelectualmente de promover as ações necessárias, para no mínimo amenizar o que está acontecendo.
Orçamento público por exemplo, é para ser debatido com o olhar de quem sabe o que a população mais precisa e não simplesmente o que ela quer. Em muitos casos, o que ela quer é muito mais caro do que o que ela precisa, mas falta coragem, no mínimo, aos representantes políticos para fazerem esse enfrentamento.
Relembrando uma frase que um político barrense me dirigiu certa feita "Você está falando de um buraco, um buraco bem fundo", me deixa muito triste, pois sempre nutri a esperança de que esse buraco não fosse tão fundo.
O "Dom Quixote", aquele personagem incrível da literatura clássica, criado por Miguel de Cervantes, que insistia com a sua loucura em acreditar ser possível um mundo melhor, apesar da enorme dificuldade em isto se concretizar, teria ainda dificuldade com o mundo de hoje. Explicarei essa comparação, a seguir.
Ao longo de alguns anos venho tentando ajudar minha cidade, seja com a minha participação efetiva no processo eleitoral, escrevendo crônicas como esta aqui ou fazendo parte dos Conselhos Municipais, os quais deveriam ter um papel mais preponderante na sociedade.
No entanto, chega uma hora em que a gente se sente cansado. Cansado em ver o correto sendo sufocado pelo oportunismo... O "Dom Quixote" vai desaparecendo, ficando apenas a certeza de que o caos é irreversível e que lutar é em vão e o buraco é muito mais fundo do que imaginamos.
Que essas palavras possam além de tocar corações e mentes, também despertar os que tem o poder de decisão, para ficarem alertas aos sinais que estão sendo emitidos.
O suicídio de jovens, numa cidade tão pequena porém tão querida, principalmente por quem gosta de visitá-la nos feriados e na temporada de verão, não registre nas páginas de sua história o extermínio de parte de seu povo, cuja motivação foi a desesperança, gerada pelo descaso.
Carlos Quartezani
Concordo plenamente com você. Até quando vamos ficar elegendo pessoas que não trabalham para o povo.
ResponderExcluir