segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O túnel

Tem uma cena célebre em O Conde de Monte Cristo em que o personagem principal, encarcerado numa prisão quase impossível de se fugir dela, dialoga com o homem que já estava ali há mais 30 anos a respeito de uma sugestão para fugir daquele inferno. A oferta é que se o novo inquilino o ajudasse a cavar um túnel e assim fugirem, em troca o ensinaria tudo o que aprendeu por toda a vida.

Quem viu o filme, um clássico do cinema, já rememorou a cena e talvez tal como eu, tenha chegado à conclusão que o cerne de todo o filme, baseado em livro, está nesta cena. O prisioneiro mais antigo alerta ao seu novo companheiro de cela que o seu bem mais precioso, a liberdade, pode ser tirada, no entanto, o conhecimento jamais, respondendo assim ao seu questionamento sobre o que ganharia se ajudasse-o a cavar o túnel.

Trago aqui este episódio desse grande filme para tratar de algo que tenho observado, sobretudo na conduta dessa nova geração, que nasceu com computadores nas mãos e não reconhecem a importância do conhecimento, como princípio básico da prosperidade. A urgência em ter o que quer, afasta-os do compromisso de se preparar para ter, algo que se conquista com o conhecimento genuíno que integram lógica mas também a sensibilidade. 

Estamos numa quadra da vida que entre tantos os desafios que temos para evoluirmos enquanto sociedade, a pressa, a urgência em se conquistar o que se quer, atropela fases importantes e a principal delas, a busca pelo conhecimento, meio pelo qual o indivíduo consegue realmente se apropriar do que alcançou. 

Um ditado popular e que eu escuto desde criança é que "o quem vem fácil, vai fácil". Saborear uma vitória depois de uma luta árdua, tem um significado muito mais impactante do que, por exemplo, repentinamente descobrir que recebeu uma herança. Não quero aqui ser hipócrita e não reconhecer que é bom ser surpreendido por algo como uma herança, mas salientar que aquilo que conquistamos com o nosso próprio esforço, tem valor e não simplesmente preço.

Sinto-me na obrigação de na medida em que fui abençoado por Deus ao me permitir estar aqui, compartilhar com o meu semelhante o que acumulei ao longo de minha vida, que certamente não foram posses mas capacidade para não me deixar iludir por aquilo que vem fácil e focar no que realmente importa.

Cave o seu próprio túnel e saberá que a sua liberdade, como bem definiu o trecho do filme ao qual me referi, pode ser tirada mas o conhecimento que você buscou, jamais. 

Carlos Quartezani

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Não é sobre poder, mas honra

A busca por uma vida que faça sentido é talvez a que mais se aproxima do fundamento da tal felicidade, como por outras palavras já disse o poeta. Seja no campo material ou espiritual, estamos sempre procurando encontrar o motivo pelo qual acordamos todos os dias e iniciamos, cada um a seu modo, a nossa batalha. 

Na política, não é diferente. Embora esse ambiente seja propício a sentimentos e gestos não muito nobres, dificilmente encontraremos outro que seja tão propício à valorização da pessoa humana. 

Homenagens e o reconhecimento público do serviço prestado à sociedade, uma prerrogativa de quem tem o poder político, é um dos principais ingredientes que estabelece o vínculo entre o administrador e o administrado, entre a polis (cidade em grego) e o cidadão.

Quem nunca teve o desejo de ter o nome de um ente querido de sua família - claro que não esteja mais entre os vivos - denominando uma Avenida, uma Praça ou um outro bem público importante para a cidade? 

Ou, neste caso, você próprio, tenha vislumbrado ser reconhecido através de um Título, uma Comenda ou um outro símbolo qualquer, por seus relevantes serviços prestados à sociedade?

Lembre-se, estou tratando de honra e não de qualquer vantagem financeira, que não tem lugar nesse ambiente, o ambiente do valor chamado honra.

Considero, por exemplo, que tive e tenho a sorte de pertencer a um grupo político que possui esse valor e embora sempre haja aquele que não resiste a pressões e distoe, a grande maioria continua firme no propósito de não colocar a honra em segundo plano, e segue, como eu, trabalhando para que o poder nunca deixe de ser, essencialmente, o instrumento pelo qual além de decidir sobre os rumos da cidade, mas também prime por honrar as pessoas que são quem de fato dá sentido a tudo isto.

Tenho convivido nos últimos anos com gente bem jovem, bem mais jovem do que eu e observo que alguns valores ainda estão presentes, bastando que aqueles que alcançaram o poder político desperte para o verdadeiro sentido da missão que lhe foi atribuída. 

Não se deve esquecer, contudo, que a honra reconhecida no outro deve partir daquele que também a tem, sem a qual é impossível reconhecê-la. 

Carlos Quartezani