quarta-feira, 31 de março de 2010

Em terra de cego...

Recentes pesquisas encomendadas com o objetivo de especular sobre quais seriam os nomes mais cotados para vencer as eleições 2010 para os cargos de governador do Estado do Espírito Santo e as duas vagas para representantes no Senado Federal, apontaram, entre outros, um dado interessante e preocupante, embora não surpreendente. A metade dos entrevistados disse que não se interessa pelos assuntos relacionados à política e quase 90% sabem que haverão eleições, entretanto, afirmam não gostar e não acompanhar os acontecimentos políticos.

Vejamos: Se considerarmos que o nosso Estado, cuja população está em torno de 3,5milhões de habitantes, tem pouco mais de 2 milhões de eleitores significa afirmar que algo em torno de 1 milhão de pessoas decidirão o seu voto sem utilizar qualquer critério considerado aceitável, com o detalhe de tratar-se de uma eleição que decidirá quem governará o Estado (78 municípios) por quatro anos, mandato este que poderá estender-se para oito anos.

Reflitam comigo: Onde realmente está a nossa crise? Nos R$400milhões ao ano que não vamos perder dos royalties, com a proposta estapafúrdia do deputado federal Ibsen Pinheiro pretendendo dividir com os demais estados brasileiros uma riqueza que pertence exclusivamente aos estados produtores de petróleo? Ou seria os problemas envolvendo a segurança pública, que definitivamente não é uma exclusividade do nosso estado, haja visto que a criminalidade explode em lugares onde a pujança econômica passa a ser um ponto desfavorável, quando fomenta a ganância e a falta total de altruísmo por parte de grande parte da população, “beneficiada”, inclusive, com uma vida de consumo frenético e sem tempo para observar o monstro que estão criando, muitas vezes dentro de suas próprias casas? Não! Definitivamente, os royalties do petróleo e a segurança pública não são a nossa pior crise.

Nossa verdadeira crise está concentrada na nossa incapacidade de perceber que podemos ser muito mais do que somos, se decidirmos agir, participar e entender as matizes da política. Homens e mulheres inteligentes administram e governam com aquilo que têm à sua disposição, e se o que eles têm a disposição são milhares de pessoas que não querem entender a política, está aberto o caminho para oferecer aquilo que na sua concepção é o melhor para a maioria, ou seja, o ambiente para o autoritarismo é estabelecido sem a necessidade de golpes como o que levou o Brasil e toda a América Latina a amargar o mais sombrio de todos os momentos políticos já vividos em nosso Continente: A ditadura militar.

Particularmente, rendo minhas homenagens aos companheiros do PMDB do Rio Grande do Sul que através da Fundação Ulysses Guimarães são os pioneiros de uma verdadeira revolução silenciosa. Através do EAD (Ensino à Distância) vêm disseminando a idéia em todo o Brasil de que o conhecimento, sobretudo nas questões relativas à atividade política, é essencial para que o nosso país seja de fato, de todos. Os cursos de formação política oferecidos gratuitamente à toda população, não irão promover milagres e transformar todos os cidadãos em deputados, senadores, vereadores, etc... mas têm a função primordial de promover um despertar generalizado para uma lógica que há séculos vem tentando se consolidar, mas o desinteresse das pessoas pelo conhecimento e a informação constitui-se em seus principais obstáculos.

Aqui na minha região há um ditado popular que diz: “Em terra de cego quem tem um olho é rei”. Não podemos nos contentar em sermos todos cegos em busca de alguém que tenha um olho só para nos guiar. Devemos ser guiados por alguém que enxergue com os dois olhos e que na medida em que este venha vacilar em sua capacidade de enxergar, estejamos com os nossos olhos sadios, abertos e atentos para exigir uma mudança de rumo imediata, sob pena de não conseguirmos mais retornar e acertar a nossa rota.

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