sábado, 2 de julho de 2011

A Política e os “Mitos”

Me sinto solitário falando sobre o tema que vou discorrer agora, mas não desistirei de tentar faze-lo na expectativa de que através desse pensamento, as pessoas possam sentir-se provocadas a tentar compreender a importância dessa discussão para encontrar os caminhos que nos levem às soluções dos problemas que vivemos em sociedade. Problemas sempre existirão, mas quando não há discussão sobre as soluções mais viáveis, eles se tornam parte da paisagem.

A morte do ex-presidente da República, Itamar Franco, ocorrida hoje em São Paulo, é mais um episódio emblemático do que venho falando a respeito dos “mitos” na política e o perigo que isto representa para a verdadeira e legítima democracia. A distância que as pessoas estabeleceram entre a sua vida cotidiana e a política, facilitaram a criação desses “mitos” que num passado recente, eram chamados de “salvadores da pátria”, expressão que ganhou fama nacional numa novela exibida na Rede Globo, através da personagem Sassá Mutema, interpretado pelo ator Lima Duarte.

É óbvio que temos que dar os créditos às pessoas que colocaram seus nomes à disposição para representar um projeto político, entretanto, o que se verifica é que na medida em que esse projeto sagra-se vencedor, instantaneamente ganha um “dono” e a idéia, o planejamento e os sonhos compartilhados, propriamente ditos, se perdem nos devaneios daquele a quem empenhamos nosso esforço e luta para que fosse o representante do projeto em questão.

Política não se faz sozinho. É preciso ter consciência de que todas as ações devem ser criteriosamente analisadas por todos aqueles que fazem parte da construção do projeto e na medida em que não haja consenso, o conceito de “maioria” passa a ser o melhor critério de decisão por parte de quem o representa. Os “mitos” que estão sempre presentes no modelo de política vigente, impede que a verdadeira democracia seja exercida, uma vez que a “sua vontade” torna-se soberana, em detrimento do conselho político que deveria haver num governo efetivamente democrático.

Não quero fazer comparações entre um mito ou outro, porque todos são criados através dos mesmos critérios. Menciono Itamar Franco porque num momento em que o Brasil passava por um dos seus períodos mais difíceis, ele surge com uma idéia construída a várias mãos que desencadeou o processo de criação e fortalecimento da moeda brasileira atual e a estabilização econômica tão necessária naquele momento. Seu compromisso com o projeto, com o Brasil foi tão importante que o seu principal ministro, Fernando Henrique Cardoso, foi projetado ao cargo de Presidente da República para representar a idéia, o projeto, tão bem elaborado sob a responsabilidade do então presidente da República Itamar Franco.

Nos municípios, por exemplo, é tão arraigada a idéia dos “mitos” que torna-se preocupante imaginar quem poderia se candidatar ao cargo máximo (prefeito municipal) que não sejam os nomes de sempre. Com a geopolítica, estratégia estabelecida no país sob a égide da “união em nome do coletivo”, ficou ainda mais complicado o caminho de quem vislumbra um espaço na política, desestimulando ainda mais aqueles que gostariam de dar sua contribuição para uma cidade melhor, um país melhor, por saber que com a “mitologia” presente, o debate e a política genuína, cedem lugar aos pequenos grupos que entendem representar os interesses da coletividade e utilizam de todos os meios imagináveis e inimagináveis para fazerem valer a sua vontade.

O povo precisa se aproximar da política, dos partidos políticos e passarem a, de fato, participarem do processo. Não há como governar o povo, sem a sua presença. É inconstitucional! O poder emanava do povo! Mas para isso, é preciso se organizar, do contrário, é anarquia e anarquia só se justifica sob o caos...

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