quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Por que me ufano do meu país

João Baptista Herkenhoff

Os mais velhos hão de se lembrar de um livro que nos fazia ter orgulho da condição de brasileiro: “Por que me ufano do meu país”.

Afonso Celso, o autor, começava por realçar nossa grandeza territorial, este Brasil imenso que nós falávamos que ia do Oiapoque ao Xuí.

Depois Afonso Celso exaltava a beleza do Brasil: o Rio Amazonas, a Cachoeira de Paulo Afonso, a Baía da Guanabara, a Floresta Tropical na sua pujança inigualável. Mesmo quem não tinha visitado esses lugares ficava com os olhos marejados de encantamento com a descrição que o escritor fazia de nossas plagas. Então Afonso Celso começava a falar de nossas riquezas naturais, do subsolo ainda inexplorado, do Brasil como celeiro do mundo. Ele não se esquecia de timbrar na amenidade e variedade do nosso clima. Quase de joelhos agradecia a Deus o fato de estar nosso país livre de vulcões, terremotos e outras catástrofes. E vinha depois o elogio da miscenação, raças que se fundiram – índios, negros e portugueses – cada uma com suas virtudes, gerando o mestiço brasileiro. Refutando a versão de que degredados povoaram o Brasil, disse Afonso Celso que vieram para este solo heróis expulsos de outras terras pelos sonhos de liberdade. Também exaltou o nosso Afonso, como característica nacional, o procedimento cavalheiroso para com outros povos. Não se esqueceu de reverenciar os fastos de nossa História – os Bandeirantes, Palmares, a Independência, a missão civilizatória dos jesuítas, o grande monarca que foi Dom Pedro II.

Com tanta injeção de civismo, outro não podia ser o resultado: éramos todos patriotas, cantávamos com a alma o Hino Nacional, estávamos dispostos a qualquer sacrifício que a Pátria nos pedisse, preferiríamos morrer antes de algum dia nos tornarmos corruptos.

Depois Afonso Celso foi ridicularizado. Criou-se, a partir do título do seu livro, a palavra ufanismo com o sentido pejorativo que Aurélio e Houiss registram: vanglória desmedida, patriotismo excessivo.

Será que Afonso Celso exagerou? Será que a dose de intensa brasilidade, que seu livro infundiu, trouxe prejuízo ao país?

Não partilho da visão negativa que se oponha a Afonso Celso. Abundância de brasilidade não causa dano. Ausência de brasilidade, isto sim é uma lástima.
Houvesse brasilidade sincera, não teríamos falcatruas, compra e venda de votos, traição aos interesses nacionais.

Resgatemos o ufanismo de Afonso Celso: “Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza.” (Jorge Ben Jor).
João Baptista Herkenhoff é professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo. Autor de Filosofia do Direito (GZ Editora, 2010).

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