As pequenas e médias cidades brasileiras, tais como Conceição da Barra no norte do Espírito Santo, estão vivendo um momento que podemos chamar de atípicos, do ponto de vista político/administrativo. Nota-se que uma parcela da população está, diria, “encantada” com a quantidade de obras em andamento - em algumas regiões do município - dentre as quais os convênios estabelecidos com os governos estadual e federal, na administração anterior, permitiram que a postura gerencial da atual administração, tornasse tais obras possíveis, embora, a lentidão, tenha desagradado uma parcela desta mesma população, provocando a tão famosa “letargia” face ao ano eleitoral que se aproxima. O prédio da Prefeitura Municipal é um exemplo emblemático.
O que tem me chamado a atenção e isso me parece ser uma realidade também na cidade vizinha (São Mateus) é que a postura dos respectivos gestores públicos, provocou uma total distância da população em relação às decisões políticas. A participação popular que já era insuficiente, tornou-se raríssima com a administração dos atuais gestores. Empresários, tanto Jorge Donatti, de Conceição da Barra, quanto Amadeu Boroto, em São Mateus, fazem uma leitura semelhante do que seja “governar”, entendendo que o importante é fazer obras, ignorando, inclusive, a necessidade de se reformar as que já existem. Quanto a consultar a sociedade, não se faz necessário uma vez que, eleitos, receberam do povo o aval para “agirem do modo que melhor lhes convierem”.
Não posso concordar com tal postura e se o fizesse estaria negando minha própria teoria de que “governar”, não é apenas “administrar”. Quando se governa há que se observar, sobretudo, o que as pessoas entendem sobre o que é melhor para a cidade, considerando inclusive aspectos culturais, sociais e educacionais, não permitindo que as decisões em benefício de “um povo”, sobrepuje ao princípio básico da democracia que é “governar para o povo”.
Não é novidade para ninguém que a nossa juventude, especificamente em Conceição da Barra, está totalmente sem norte e envolvida numa panacéia administrativa que supõe que todos os problemas serão resolvidos na medida em que se calça ruas e constrói o calçadão na praia para que, aos olhos dos visitantes, tudo esteja maravilhoso e que a escalada da violência no município, por exemplo, não tem nenhuma relação com o governo municipal, e sim, com a realidade em todo o Brasil.
De fato, problemas envolvendo jovens desestimulados e envolvidos com drogas existem em todo o país, entretanto, o que não podemos admitir é que não se faça absolutamente nada, a nível municipal, para que essa geração, que tem o privilégio de viver num país com moeda estável, não possa ser melhor aproveitado inclusive recebendo um tratamento governamental que o estimule a participar dos debates políticos, o que não ocorre em Conceição da Barra e que eu lamento profundamente.
Os defensores do atual governo o fazem, quase sempre, usando a medida parcial da sua condição de beneficiários, seja na condição de empregados ou de fornecedores. Contudo, o que se nota é que setores como os pequenos e médios empresários, estão à deriva, aguardando, como sempre, a chegada do carnaval, quando recebem uma espécie de overdose de receitas, mas que logo se dissipam com o findar do período da estação verão. Nos distritos, a realidade não é diferente, afinal, a política de governo vale para todo o município.
Não há outra forma de ser fazer um bom governo se não existe, por parte da administração municipal, a intenção de ver a sociedade organizada, debatendo os assuntos e contribuindo na tomada de decisões. Na qualidade de cidadão barrense, faço esse registro na expectativa de que as pessoas que não abrem mão do direito de pensar, tome posição e aproveite o ano que se aproxima para discutir um novo modelo de governo, que possibilite, sobretudo, a construção de uma Conceição da Barra a várias mãos tal como esta “velha senhora” de 120 anos merece.