sábado, 26 de janeiro de 2013

A arte e a cultura “pocando” na Barra



“Respeitável público, o Festival de Cultura Pocar está aberto em Conceição da Barra!”

Com a alegria peculiar de quem tem no circo a sua maior referência artística, a trupe da Companhia de Teatro Estandarte, de Ouro Preto-MG, aportou em Conceição da Barra, nesta segunda-feira, 21, trazendo na bagagem muito mais que performances brilhantes e que encantam a todos que acreditam na arte, mas uma sensação indescritível de que somos importantes, sobretudo por nossa história, nosso povo e os nossos costumes.

Enquanto os desavisados do momento acham que tudo se resume em poder e dinheiro, Didito Camilo, nosso conterrâneo e responsável pela presença dessa valorosa turma em nossa cidade, faz um relato emocionado sobre o quanto significa para ele, neto de Pedro de Aurora (criador do Jongo de São Bartolomeu em Conceição da Barra) ser um dos responsáveis pelo primeiro Festival de Cultura da cidade e o quanto foi importante para sua carreira de ator, levar consigo o DNA da arte herdada de seus antepassados.

O Ticumbi, O Alardo e Os Reis de Boi, tão familiar a todos nós que nascemos e crescemos ouvindo e vendo os descendentes dos escravos se dedicarem com tanto fervor à causa – sim, causa! Por que não?! -  foram os passos iniciais para o ator barrense Didito, que um dia sonhou em ser ator e não ficou só no sonho: Partiu em busca da realização. Para isso, precisou se ausentar da cidade e buscar os ares de Ouro Preto para sua formação na arte que estabeleceu ser a plataforma para sua realização pessoal e profissional.

Hoje, Conceição da Barra recebe Didito com toda reverência pois nunca se precisou tanto de pessoas que amam a cidade e que reconhece nela sua importância do ponto de vista cultural e histórico. Sua intervenção junto ao Conselho Estadual de Cultura, entre outras pessoas que com diligência batalharam para que uma temeridade contra o nosso patrimônio histórico não fosse praticada, foi, de fato, fundamental. O projeto de “revitalização da praça” imposto pelo Gestor Público Municipal, sem consulta popular, que alteraria todo o trecho que contempla a Praça do Cais e a Praça da Igreja Católica, não foi levado adiante pois a ação possibilitou o tombamento da área que hoje é patrimônio histórico do Estado do Espírito Santo.

Mas, falando agora do mais importante, ou seja, o Festival de Cultura “Pocar”, cujos realizadores garantem ser apenas o primeiro de muitos, está acontecendo em Conceição da Barra entre os dias 24 e 30 de janeiro, e mesmo sem o apoio do poder público municipal – o evento recebeu apoio do Governo Estadual, através da Secretaria de Cultura – revelou a força que tem um povo na medida em que se não poupa esforços para a realização de eventos como este.

O vereador ofereceu alimentação para a trupe; proprietários de Bares e Restaurantes ofereceram o espaço (já que não temos um espaço adequado, como um teatro, por exemplo) para as apresentações e hospedagens; parentes e amigos doaram recursos para combustível e a Companhia de Teatro Estandarte, doou-se para realizar em Conceição da Barra um festival nos moldes daquele presenciado por Didito numa viagem ao Ceará. “Achei maravilhoso e disse para mim mesmo: Por que não um desses na minha terra natal?”, disse o ator, convicto do valor cultural que tem nossa cidade.

Assim, registro aqui inicialmente o que vi e o que espero ver, se Deus quiser, em minha cidade, quando o povo perceber que a nossa maior riqueza não está exclusivamente naquilo que é material, palpável, mas nos valores humanos e no respeito aqueles que foram os responsáveis por nos tornar uma cidade bela, querida e de extrema importância histórica para o nosso Estado e o Pais.
O “Pocar”, para quem não sabe, tem origem numa expressão que usamos aqui em terras capixabas e que significa “arrebentar”, “estourar” ou melhor dizendo, fazer sucesso, “pocar”!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A força da Utopia


João Baptista Herkenhoff 

Para iniciar esta reflexão cabe distinguir dois vocábulos que só na aparência são sinônimos: mito e utopia. O mito é um sucedâneo da realidade, que consola o homem daquilo que ele não tem. Esconde a verdade dos fatos. Nasce da fantasia descomprometida. Compensa uma insatisfação vaga, inconsciente.

A utopia, pelo contrário, é a antevisão de um projeto. É a representação daquilo que não existe ainda, mas que poderá existir se o homem lutar para sua concretização. Fundamenta-se na imaginação orientada e organizada. É a consciência antecipadora do amanhã.

O mito ilude o homem e retarda a História. A utopia alimenta o projeto de luta e faz a História. Foi  com base no pensamento utópico que Niemeyer pôs em arquitetura o seu projeto de uma cidade humana, projeto aniquilado pelas estruturas envolventes, pois é impossível uma cidade humana dentro de uma sociedade fundada no lucro, no consumo, na discriminação, na desigualdade.

A primeira função do pensamento utópico, segundo Pierre Furter, é favorecer a crítica da realidade. Mas não se esgota aí seu fim: a utopia  é também uma forma de ação. Porque dão seu dinamismo à filosofia política, as utopias – como observou Ernst Bloch – propõem aos homens os meios para proverem seu destino à luz de uma visão global do desenvolvimento histórico.

Frei Fernando de Brito que hoje tem sessenta e sete anos, vive na cidade de Conde, litoral da Bahia, onde realiza trabalhos sociais. Durante o tempo em que sofreu prisão política, ele foi alimentado pelo pensamento utópico, conforme se depreende deste seu depoimento:

“O que nos mantém em plena e ininterrupta ação construtiva, o que dá sentido à vida atual, é que hoje e agora construímos  o mundo de amanhã. E, dialeticamente, é esta atividade que faz com que a Esperança  seja um objetivo realizável“.

Para que a utopia seja força progressista, é preciso transformar as aspirações em militância, a esperança em decisão política. O presente pertence aos pragmáticos. São eles os vitoriosos de hoje. Frequentam as manchetes dos jornais, as chamadas da televisão e as revistas de celebridades. Por este motivo supõem que seu êxito é eterno. Enganam-se. Talvez na próxima geração ninguém nem saiba lhes declinar o nome.
O futuro é dos utopistas. Frei Tito de Alencar Lima, companheiro de Frei Fernando de Brito e Frei Betto, na prisão, está fisicamente morto. Faleceu na França (10 de agosto de 1974). Suas cinzas vieram depois para o Brasil (25 de março de 1983). Seu túmulo, em Fortaleza, é visitado por milhares de pessoas todos os anos. Sua memória jamais perecerá.


João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado, professor itinerante Brasil afora e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nosso jeito de viver!


Somos uma cidade genuinamente turística e devemos valorizar tudo o que lembra e marca nossa história e cultura. A Barra não é só a cidade do carnaval (de rua, diga-se de passagem) mas é a cidade que tem nos seus registros fatos de extrema relevância tal qual a "Batalha do Cricaré" que vitimou o filho do Governador Geral do Brasil (Men de Sá), Fernão de Sá, por volta de 1558, numa batalha sangrenta entre portugueses e os habitantes da região, os índios botocudos. Na foto, um pouco da minha, da nossa Conceição da Barra que muitos têm ignorado sob a égide de um pseudo-desenvolvimento alicerçado em obras inacabadas e que até hoje não sabemos a sua real serventia, como se tivéssemos outra vocação senão nossa própria história, cultura e um jeitinho particular de viver a vida.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Cultura da paz


 João Baptista Herkenhoff

Primeiro de janeiro é o Dia da Confraternização Universal, ou Dia Mundial da Paz. Enlevados pelas festas da passagem do ano, é possível que tenhamos deixado passar o Dia da Paz sem, pelo menos, uma breve reflexão.
A exaltação da Paz está expressa na Constituição brasileira de 1988, como também nas Constituições de países latino-americanos e países do mundo.
A paz é valor grandemente realçado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem.
A paz foi consagrada em pactos internacionais firmados pelo Brasil e por vizinhos da América Latina.
Não obstante a relevância de tudo isto, a cultura da paz suplanta o acolhimento constitucional e legal do valor “paz” e suplanta também a força dos pactos que sejam firmados pelas nações.
Consagração constitucional e legal, celebração de pactos, instituição de mecanismos de controle – tudo isso é importante na defesa da paz.
Entretanto uma “cultura da paz” é decisiva para sua vigência efetiva no mundo, na vida concreta dos povos. Ou dizendo de outra forma: Constituição, leis, pactos, mecanismos controladores exigem como pressuposto uma “cultura da paz”.
A ideia de paz acolhida nas mentes e corações resulta de uma busca da inteligência e da vontade.
Cultura da paz, devotamento à paz, absorção do ideal de paz, disseminação do sentido de paz em todo o organismo social, em nível nacional e internacional – este é o desafio que cabe enfrentar.
Uma cultura da paz pede um imenso esforço de educação. Trata-se de uma empreitada específica, direcionada a um objetivo escolhido, ou seja “educar para a paz”, educar para o florescimento, a manutenção e a defesa da paz. Ou de maneira ainda mais incisiva – o que se deve pretender é a educação para plasmar na alma das pessoas, dos grupos sociais, dos povos uma cultura da paz radicada no inconsciente coletivo.
Esse esforço educacional terá, necessariamente, diversas fronteiras de atuação: na escola, na família, nas igrejas, nas organizações da sociedade civil, nos meios de comunicação social.
A empreitada não é fácil porque a defesa da paz não é unânime. Há atores sociais que desejam a guerra, que vivem da guerra.
Há forças que alimentam a discórdia, que desencorajam o diálogo, que sabotam todo e qualquer esforço pacifista.
Há todo um aparato de sofisticada comunicação destinado a envenenar a opinião pública com uma mensagem subliminar belicista.
Os arautos da Paz têm de estar vigilantes para contrapor o entendimento à surdez no ouvir, a mesa de negociações às trincheiras, o convívio entre as nações ao isolamento.

João Baptista Herkenhoff é professor itinerante Brasil afora e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage:www.jbherkenhoff.com.br