“Respeitável público, o
Festival de Cultura Pocar está aberto em Conceição da Barra!”
Com a alegria peculiar de
quem tem no circo a sua maior referência artística, a trupe da Companhia de
Teatro Estandarte, de Ouro Preto-MG, aportou em Conceição da Barra, nesta
segunda-feira, 21, trazendo na bagagem muito mais que performances brilhantes e
que encantam a todos que acreditam na arte, mas uma sensação indescritível de
que somos importantes, sobretudo por nossa história, nosso povo e os nossos
costumes.
Enquanto os desavisados do
momento acham que tudo se resume em poder e dinheiro, Didito Camilo, nosso
conterrâneo e responsável pela presença dessa valorosa turma em nossa cidade,
faz um relato emocionado sobre o quanto significa para ele, neto de Pedro de Aurora
(criador do Jongo de São Bartolomeu em Conceição da Barra) ser um dos
responsáveis pelo primeiro Festival de Cultura da cidade e o quanto foi
importante para sua carreira de ator, levar consigo o DNA da arte herdada de
seus antepassados.
O Ticumbi, O Alardo e Os
Reis de Boi, tão familiar a todos nós que nascemos e crescemos ouvindo e vendo
os descendentes dos escravos se dedicarem com tanto fervor à causa – sim,
causa! Por que não?! - foram os passos
iniciais para o ator barrense Didito, que um dia sonhou em ser ator e não ficou
só no sonho: Partiu em busca da realização. Para isso, precisou se ausentar da
cidade e buscar os ares de Ouro Preto para sua formação na arte que estabeleceu
ser a plataforma para sua realização pessoal e profissional.
Hoje, Conceição da Barra
recebe Didito com toda reverência pois nunca se precisou tanto de pessoas que
amam a cidade e que reconhece nela sua importância do ponto de vista cultural e
histórico. Sua intervenção junto ao Conselho Estadual de Cultura, entre outras
pessoas que com diligência batalharam para que uma temeridade contra o nosso
patrimônio histórico não fosse praticada, foi, de fato, fundamental. O projeto
de “revitalização da praça” imposto pelo Gestor Público Municipal, sem consulta
popular, que alteraria todo o trecho que contempla a Praça do Cais e a Praça da
Igreja Católica, não foi levado adiante pois a ação possibilitou o tombamento
da área que hoje é patrimônio histórico do Estado do Espírito Santo.
Mas, falando agora do mais
importante, ou seja, o Festival de Cultura “Pocar”, cujos realizadores garantem
ser apenas o primeiro de muitos, está acontecendo em Conceição da Barra entre
os dias 24 e 30 de janeiro, e mesmo sem o apoio do poder público municipal – o
evento recebeu apoio do Governo Estadual, através da Secretaria de Cultura –
revelou a força que tem um povo na medida em que se não poupa esforços para a
realização de eventos como este.
O vereador ofereceu
alimentação para a trupe; proprietários de Bares e Restaurantes ofereceram o
espaço (já que não temos um espaço adequado, como um teatro, por exemplo) para
as apresentações e hospedagens; parentes e amigos doaram recursos para
combustível e a Companhia de Teatro Estandarte, doou-se para realizar em
Conceição da Barra um festival nos moldes daquele presenciado por Didito numa
viagem ao Ceará. “Achei maravilhoso e disse para mim mesmo: Por que não um
desses na minha terra natal?”, disse o ator, convicto do valor cultural que tem
nossa cidade.
Assim, registro aqui inicialmente
o que vi e o que espero ver, se Deus quiser, em minha cidade, quando o povo
perceber que a nossa maior riqueza não está exclusivamente naquilo que é material,
palpável, mas nos valores humanos e no respeito aqueles que foram os
responsáveis por nos tornar uma cidade bela, querida e de extrema importância
histórica para o nosso Estado e o Pais.
O “Pocar”, para quem não sabe,
tem origem numa expressão que usamos aqui em terras capixabas e que significa “arrebentar”,
“estourar” ou melhor dizendo, fazer sucesso, “pocar”!
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