João
Baptista Herkenhoff
Para
iniciar esta reflexão cabe distinguir dois vocábulos que só na aparência são
sinônimos: mito e utopia. O mito é um sucedâneo da realidade, que consola o
homem daquilo que ele não tem. Esconde a verdade dos fatos. Nasce da fantasia
descomprometida. Compensa uma insatisfação vaga, inconsciente.
A utopia,
pelo contrário, é a antevisão de um projeto. É a representação daquilo que não
existe ainda, mas que poderá existir se o homem lutar para sua concretização.
Fundamenta-se na imaginação orientada e organizada. É a consciência
antecipadora do amanhã.
O mito
ilude o homem e retarda a História. A utopia alimenta o projeto de luta e faz a
História. Foi com base no pensamento utópico que Niemeyer pôs em
arquitetura o seu projeto de uma cidade humana, projeto aniquilado pelas
estruturas envolventes, pois é impossível uma cidade humana dentro de uma
sociedade fundada no lucro, no consumo, na discriminação, na desigualdade.
A primeira
função do pensamento utópico, segundo Pierre Furter, é favorecer a crítica da
realidade. Mas não se esgota aí seu fim: a utopia é também uma forma
de ação. Porque dão seu dinamismo à filosofia política, as utopias – como
observou Ernst Bloch – propõem aos homens os meios para proverem seu destino à
luz de uma visão global do desenvolvimento histórico.
Frei
Fernando de Brito que hoje tem sessenta e sete anos, vive na cidade de Conde,
litoral da Bahia, onde realiza trabalhos sociais. Durante o tempo em que sofreu
prisão política, ele foi alimentado pelo pensamento utópico, conforme se
depreende deste seu depoimento:
“O que nos
mantém em plena e ininterrupta ação construtiva, o que dá sentido à vida atual,
é que hoje e agora construímos o mundo de amanhã. E, dialeticamente,
é esta atividade que faz com que a Esperança seja um objetivo
realizável“.
Para que a
utopia seja força progressista, é preciso transformar as aspirações em
militância, a esperança em decisão política. O presente pertence aos
pragmáticos. São eles os vitoriosos de hoje. Frequentam as manchetes dos
jornais, as chamadas da televisão e as revistas de celebridades. Por este
motivo supõem que seu êxito é eterno. Enganam-se. Talvez na próxima geração
ninguém nem saiba lhes declinar o nome.
O futuro é
dos utopistas. Frei Tito de Alencar Lima, companheiro de Frei Fernando de Brito
e Frei Betto, na prisão, está fisicamente morto. Faleceu na França (10 de
agosto de 1974). Suas cinzas vieram depois para o Brasil (25 de março de 1983).
Seu túmulo, em Fortaleza, é visitado por milhares de pessoas todos os anos. Sua
memória jamais perecerá.
João
Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado, professor itinerante Brasil afora
e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
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