Por curiosa coincidência foram lançados em Vitória, dois livros que se completam levando o leitor a uma viagem dos sertões ao mundo.
Podemos começar o périplo a partir dos sertões para depois alcançar o mundo, ou podemos optar pelo caminho inverso: vir do mundo para os sertões.
Vou optar pelo caminho que se inicia nos sertões – “Ecos do sertão: sertões – Vozes do árido, do semiárido e das veredas”, título do livro de Jô Drummond, minha confrade na Academia Espírito-Santense de Letras. Confreira, palavra estranha, não é? Mais estranha que confreira, só mesmo confrada. Prefiro confrade: o confrade, a confrade, como também o poeta, a poeta, e jamais poetisa. Mas o tema desta página não são as questões gramaticais, a respeito das quais ouça-se José Augusto Carvalho.
O livro da Jô Drummond é simplesmente fenomenal. Jô viaja por Euclides (Os sertões), Graciliano (Vidas secas) e Guimarães Rosa (Grande sertão). Estuda, com olhar percuciente, as personagens criadas pelos geniais autores: Coronel Moreira César, Baleia, Riobaldo. Tão diversas, mas tão semelhantes, sob o olhar da arte: Moreira César é militar do Exército, Riobaldo é jagunço, os dois são gente, Baleia é bicho. Jô ultrapassa o espaço simplesmente literário para voar por rotas tão ousadas quanto às do trio citado e assim bate à porta da Linguística, da Psicologia, da Sociologia, da Antropologia, da Filosofia, da Mitologia, da Poética, da História e Histeriografia, da Geografia e Cartografia, do Folclore. É incrível como a autora conseguiu penetrar em tantos universos num livro de apenas um cento e meio de páginas.
O mundo que, ao lado do sertão, serve de título para este texto, é o mundo de Francisco Aurélio Ribeiro: “Viajando pelo mundo – em fotos e crônicas”.
Francisco Aurélio é também colega de Academia. Mesmo quem não tenha a oportunidade de realizar concretamente as viagens que o livro conta, vai com toda certeza viajar na imaginação, tão inspirada é a narrativa, tão belas são as fotos. O autor conduz o leitor à Albânia, à Romênia, a Anguilla, Saint-Berthèlemy e Saint-Maarten, à Austrália e à Nova Zelândia, a Dubai, à Palestina e à Terra Santa inteira, ao Líbano, à Macedônia e a Kosovo, a Madagascar, a Moçambique, a Montenegro, à Ilha Maurício, à Polinésia Francesa, a Dublin, ao Taiti, ao Egito, à Bósnia, à Indochina, à Argentina.
Estranha o leitor que os lugares estejam embaralhados, sem começar, por exemplo, pela Argentina, que fica aqui, tão perto do Brasil? Estranha o leitor que no livro os capítulos de Moçambique e Terra Santa sejam vizinhos? Mas foram assim mesmo as viagens do Francisco Aurélio – anárquicas, libertárias, sem rótulos. Se viajar é romper amarras, um livro de viagens não pode aprisionar.
João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor.
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/ 2197242784380520
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