Quando
escrevo aqui ou nas redes sociais, ou ainda quando comento com amigos sobre as
questões relacionadas à violência, que hoje chega a níveis que ultrapassaram as
barreiras do preocupante, procuro provocar reflexões quanto à raiz do problema.
Propor reflexão não é impor respostas, mas contribuir simplesmente com o
necessário debate. Não se pode receitar um remédio sem antes diagnosticar a
doença, sob pena desse remédio, além de não curar, promover a piora do
paciente.
É comum,
sobretudo por parte das pessoas mais próximas das vítimas dessa violência
crescente, exigirem “justiça”. Contudo, é preciso ter a consciência de que ser
vítima da violência nos dias de hoje, seja no trânsito, no lazer, na própria
casa, etc. não mais se trata de um fato isolado, mas de uma sequência de atos
que acontecem todos os dias em nosso País, nas grandes, médias e até pequenas
cidades e que se a prática dessa “justiça” no modelo que se exige fosse colocada
em ação, transformaríamos nosso País num lugar impossível de se viver. Seria a
barbárie propriamente dita.
Como disse
no início desse texto, é preciso encontrar a “raiz do problema”. Por que jovens
de classe média e alta transformam carros em brinquedinhos nas ruas, avenidas e rodovias? Por que se mata
por causa de desentendimento no trânsito? Por que jovens tiram a vida de outros
jovens por motivos fúteis? Por que os jovens não mais se interessam por aquilo
que é ideológico, cívico e moral, preferindo apenas o “ter” na base do custe o
que custar? Essas e muitas outras são perguntas que precisam de respostas e só terão
se a nossa mente e o coração estiverem sintonizados, num Mundo em que o coração
(o sentimento) está deixado de lado e considerado apenas como “papo de poeta”.
A
praticidade do Mundo moderno está nos destruindo. Não temos tempo para amar os nossos
filhos, para honrar os pais, para oferecer um conselho a quem precisa, para ler
um texto... e quando se trata de descobrir caminhos para a solução dos
problemas, que requer diálogo em reuniões consideradas “chatas” para muitos,
estamos sempre ocupados demais e que o governo que nós elegemos, é quem deve se
preocupar com isso. Ledo engano. Nossa responsabilidade não termina quando
votamos, mas inicia. Sem participação, sem compartilhamento de ideias e sem
amar-nos uns aos outros, ficaremos o tempo todo exigindo “justiça” sendo que a
justiça verdadeira, a que edifica, depende exclusivamente de nosso
comportamento na sociedade, dos exemplos que oferecemos e a nossa
disponibilidade para colaborar.
Cabe aos
nossos representantes políticos estimular essa postura e fazer com que o
diálogo volte a fazer parte da agenda do nosso povo, em especial em nossa
cidade, Conceição da Barra, onde o diálogo virou uma palavra de pouco uso e de
ação zero.
O
diagnóstico está claro na medida em que os sintomas são os mesmos. Os
investimentos feitos pelos governos, a priori não contemplam as reais
necessidades dos cidadãos, mas aquilo que eles imaginam ser as suas
necessidades. Os olhos da população estão sempre voltados para o imediato, para
aquilo que podem contemplar e não para o que é essencial e o essencial é
invisível aos olhos, como disse Antoine de Saint-Exupéry em sua obra-prima O
Pequeno Príncipe.
Compreendo e
lamento a dor de quem perde um ente querido em razão da violência que indigna a
todos nós, e exigir a prisão do autor do crime é óbvio, legítimo e até um
direito, porém é fundamental também diagnosticar os motivos pelos quais esses
indivíduos, os autores dos atos de violência, chegaram a esse ponto e para isso
é preciso muito mais que construir prisões, colocar mais policiais nas ruas,
câmeras, etc... embora tudo isso seja muito importante, é preciso lembrar que o
que nos aflige está relacionado a algo que não podemos ver com olhos naturais,
mas com os olhos da alma.