terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os olhos da alma



Quando escrevo aqui ou nas redes sociais, ou ainda quando comento com amigos sobre as questões relacionadas à violência, que hoje chega a níveis que ultrapassaram as barreiras do preocupante, procuro provocar reflexões quanto à raiz do problema. Propor reflexão não é impor respostas, mas contribuir simplesmente com o necessário debate. Não se pode receitar um remédio sem antes diagnosticar a doença, sob pena desse remédio, além de não curar, promover a piora do paciente.

É comum, sobretudo por parte das pessoas mais próximas das vítimas dessa violência crescente, exigirem “justiça”. Contudo, é preciso ter a consciência de que ser vítima da violência nos dias de hoje, seja no trânsito, no lazer, na própria casa, etc. não mais se trata de um fato isolado, mas de uma sequência de atos que acontecem todos os dias em nosso País, nas grandes, médias e até pequenas cidades e que se a prática dessa “justiça” no modelo que se exige fosse colocada em ação, transformaríamos nosso País num lugar impossível de se viver. Seria a barbárie propriamente dita.

Como disse no início desse texto, é preciso encontrar a “raiz do problema”. Por que jovens de classe média e alta transformam carros em brinquedinhos  nas ruas, avenidas e rodovias? Por que se mata por causa de desentendimento no trânsito? Por que jovens tiram a vida de outros jovens por motivos fúteis? Por que os jovens não mais se interessam por aquilo que é ideológico, cívico e moral, preferindo apenas o “ter” na base do custe o que custar? Essas e muitas outras são perguntas que precisam de respostas e só terão se a nossa mente e o coração estiverem sintonizados, num Mundo em que o coração (o sentimento) está deixado de lado e considerado apenas como “papo de poeta”.

A praticidade do Mundo moderno está nos destruindo. Não temos tempo para amar os nossos filhos, para honrar os pais, para oferecer um conselho a quem precisa, para ler um texto... e quando se trata de descobrir caminhos para a solução dos problemas, que requer diálogo em reuniões consideradas “chatas” para muitos, estamos sempre ocupados demais e que o governo que nós elegemos, é quem deve se preocupar com isso. Ledo engano. Nossa responsabilidade não termina quando votamos, mas inicia. Sem participação, sem compartilhamento de ideias e sem amar-nos uns aos outros, ficaremos o tempo todo exigindo “justiça” sendo que a justiça verdadeira, a que edifica, depende exclusivamente de nosso comportamento na sociedade, dos exemplos que oferecemos e a nossa disponibilidade para colaborar.

Cabe aos nossos representantes políticos estimular essa postura e fazer com que o diálogo volte a fazer parte da agenda do nosso povo, em especial em nossa cidade, Conceição da Barra, onde o diálogo virou uma palavra de pouco uso e de ação zero.

O diagnóstico está claro na medida em que os sintomas são os mesmos. Os investimentos feitos pelos governos, a priori não contemplam as reais necessidades dos cidadãos, mas aquilo que eles imaginam ser as suas necessidades. Os olhos da população estão sempre voltados para o imediato, para aquilo que podem contemplar e não para o que é essencial e o essencial é invisível aos olhos, como disse Antoine de Saint-Exupéry em sua obra-prima O Pequeno Príncipe.

Compreendo e lamento a dor de quem perde um ente querido em razão da violência que indigna a todos nós, e exigir a prisão do autor do crime é óbvio, legítimo e até um direito, porém é fundamental também diagnosticar os motivos pelos quais esses indivíduos, os autores dos atos de violência, chegaram a esse ponto e para isso é preciso muito mais que construir prisões, colocar mais policiais nas ruas, câmeras, etc... embora tudo isso seja muito importante, é preciso lembrar que o que nos aflige está relacionado a algo que não podemos ver com olhos naturais, mas com os olhos da alma.

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