O assunto
que tomou conta de nossa cidade nos últimos dias, sem dúvida alguma, foi o caso
da tora de peroba encontrada na praia por dois artesãos locais (Foto), que a
desenterraram e estavam buscando meios para removê-la e então, fazer uso da
mesma. Entretanto, o intento foi frustrado pelo poder público que através da
Secretaria de Meio Ambiente, reclamou a posse do objeto, argumentando tratar-se
de um bem público e que portanto deveria ser removido para o pátio da
Prefeitura. O que efetivamente foi feito.
O caso
ganhou a mídia inclusive televisiva, que através da TV Gazeta Norte, fez chegar
ao conhecimento de todos os capixabas uma parte da história de nossa antiga
fonte econômica - a extração e venda de madeira de lei - bem como, o inusitado,
que é a pergunta que não quer calar: Afinal, a tora é de quem achou ou é
patrimônio público?
Apesar de
ter minha opinião a respeito do assunto, passei a perguntar a algumas pessoas sobre
o que elas achavam a respeito da posse do material achado. Por unanimidade,
todos a quem perguntei, afirmaram que a madeira pertence aos artesãos, afinal,
foram eles que acharam e tiveram todo o trabalho de cavar e deixá-la pronta para
a remoção. No entanto, os representantes do poder público argumentaram
tratar-se de uma espécie de monumento histórico e que seu valor é bem maior do
que apenas ser transformada em tábuas ou algo semelhante.
Um dos
artesãos, inclusive, propôs que a grande peça de madeira se tornasse
matéria-prima para uma escultura (cujo trabalho seria financiado pelo poder
público), no formato de uma baleia jubarte ou uma tartaruga, enfim, animais que
são a marca da região, uma vez que a Petrobrás tem um projeto na região denominado
Tamar, que objetiva a proteção da desova das tartarugas e a jubarte é comum por
aqui na estação inverno, quando vem a procura de águas mornas para procriar.
Uma ótima ideia, no meu ponto de vista, mas não teve a aceitação do poder
público. Pelo menos, até o momento.
O assunto
tomou conta de todas as rodas de conversa. Primeiro por lembrar um tempo de ouro
em nossa economia e, segundo, que a população não conhecia esse lado sensível
do nosso governo municipal, para assuntos relacionados ao patrimônio histórico
da cidade. Digo isto porque, muito recentemente, nossa Praça histórica, da
igreja matriz, iria ser demolida e transformada num possível estacionamento. Felizmente,
um movimento da sociedade impediu a ação do governo, provocando inclusive o tombamento da Praça como patrimônio histórico do Estado. E o outro fato é nossa
"maria-fumaça" que está abandonada em frente à Prefeitura, e que no meu
entendimento tem o mesmo valor histórico que a polêmica tora, afinal, era com
ela que as empresas extratoras da madeira as conduzia até o cais do porto, onde
eram transportadas pelos navios à época.
Espero que
a importância histórica dada à tora encontrada pelos artesãos, seja o início de
uma mudança de comportamento do poder público local em relação ao tema, pois
para quem extinguiu a Secretaria Municipal de Cultura, argumentar sobre
"valor histórico de uma torna", me parece um tanto quanto inusitado,
tal qual, a polêmica sobre a quem pertence a mesma.