sábado, 11 de julho de 2015

Entre a tora e a "maria-fumaça"

O assunto que tomou conta de nossa cidade nos últimos dias, sem dúvida alguma, foi o caso da tora de peroba encontrada na praia por dois artesãos locais (Foto), que a desenterraram e estavam buscando meios para removê-la e então, fazer uso da mesma. Entretanto, o intento foi frustrado pelo poder público que através da Secretaria de Meio Ambiente, reclamou a posse do objeto, argumentando tratar-se de um bem público e que portanto deveria ser removido para o pátio da Prefeitura. O que efetivamente foi feito.

O caso ganhou a mídia inclusive televisiva, que através da TV Gazeta Norte, fez chegar ao conhecimento de todos os capixabas uma parte da história de nossa antiga fonte econômica - a extração e venda de madeira de lei - bem como, o inusitado, que é a pergunta que não quer calar: Afinal, a tora é de quem achou ou é patrimônio público?

Apesar de ter minha opinião a respeito do assunto, passei a perguntar a algumas pessoas sobre o que elas achavam a respeito da posse do material achado. Por unanimidade, todos a quem perguntei, afirmaram que a madeira pertence aos artesãos, afinal, foram eles que acharam e tiveram todo o trabalho de cavar e deixá-la pronta para a remoção. No entanto, os representantes do poder público argumentaram tratar-se de uma espécie de monumento histórico e que seu valor é bem maior do que apenas ser transformada em tábuas ou algo semelhante.

Um dos artesãos, inclusive, propôs que a grande peça de madeira se tornasse matéria-prima para uma escultura (cujo trabalho seria financiado pelo poder público), no formato de uma baleia jubarte ou uma tartaruga, enfim, animais que são a marca da região, uma vez que a Petrobrás tem um projeto na região denominado Tamar, que objetiva a proteção da desova das tartarugas e a jubarte é comum por aqui na estação inverno, quando vem a procura de águas mornas para procriar. Uma ótima ideia, no meu ponto de vista, mas não teve a aceitação do poder público. Pelo menos, até o momento.

O assunto tomou conta de todas as rodas de conversa. Primeiro por lembrar um tempo de ouro em nossa economia e, segundo, que a população não conhecia esse lado sensível do nosso governo municipal, para assuntos relacionados ao patrimônio histórico da cidade. Digo isto porque, muito recentemente, nossa Praça histórica, da igreja matriz, iria ser demolida e transformada num possível estacionamento. Felizmente, um movimento da sociedade impediu a ação do governo, provocando inclusive o tombamento da Praça como patrimônio histórico do Estado. E o outro fato é nossa "maria-fumaça" que está abandonada em frente à Prefeitura, e que no meu entendimento tem o mesmo valor histórico que a polêmica tora, afinal, era com ela que as empresas extratoras da madeira as conduzia até o cais do porto, onde eram transportadas pelos navios à época.

Espero que a importância histórica dada à tora encontrada pelos artesãos, seja o início de uma mudança de comportamento do poder público local em relação ao tema, pois para quem extinguiu a Secretaria Municipal de Cultura, argumentar sobre "valor histórico de uma torna", me parece um tanto quanto inusitado, tal qual, a polêmica sobre a quem pertence a mesma.


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