Uma mentira repetida muitas vezes ganha contorno de verdade e nos distancia muito da possibilidade de conhecer a verdade. É como na alegoria da caverna, de Platão, na qual os indivíduos limitados a sua realidade, ignoravam haver outra e assim permaneciam, sem o privilégio de sentir o valor e o calor do sol.
Este preâmbulo é para tratar de um tema que ainda é recorrente no nosso cotidiano, embora, é preciso reconhecer, alguns avanços já houveram. Falta muito, mas estamos caminhando.
Me refiro ao racismo que de tão arraigado na nossa cultura, afinal foram mais de 400 anos tratando seres humanos como bichos, ficou extremamente difícil de estirpá-lo definitivamente de nossas consciências e de nossas atitudes. Uma doença que infelizmente, herdamos.
Nem é preciso testemunhar alguém "de cor" (como eram classificados os negros) sendo especialmente revistado na entrada de um estabelecimento - enquanto os "sem cor" passam sem muito rigor neste aspecto - para perceber que a "caverna de Platão" está em nosso tempo, mais presente do que nunca.
A luta dos povos afrodescendentes em solo americano ainda é muito grande, apesar de todos os avanços e essa discriminação, latente, se percebe em gestos que sequer nos damos conta. Palavras, que para muitos soam como "mi-mi-mi" de quem está procurando pêlo em ovo, evidenciam esse problema crônico em nossa sociedade.
Não nos damos conta, só para exemplificar, o quão ultrajante é definir como "a coisa tá preta" ao nos referir a uma situação difícil que passamos ou quando queremos explicar que alguém nos difamou, é comum usarmos a expressão "denegrindo a minha imagem" e por aí vai.
São muitos os exemplos de que o racismo não sai da gente, mesmo que nos esforcemos ao máximo para isto.
Como eu disse, já foi pior. No entanto, o esforço para continuar avançando é necessário, do contrário, continuaremos involuntariamente contribuindo para que o nosso país não alcance a condição de desenvolvimento que desejamos e merecemos, pois no que se refere a se desenvolver, o aspecto humano é tão importante quanto a economia ou qualquer outro indicativo.
Não se trata de minimizar as palavras que usamos como se não fosse algo importante. É das palavras que se revela quem nós somos e as atitudes são concretizadas por meio delas e quando elas, as palavras, são lançadas, não voltam mais.
Carlos Quartezani
26/11/2023