terça-feira, 8 de setembro de 2009

A desunião faz a fôrca

(*) Carlos Quartezani

O hábito de procurar culpados por nossas mazelas talvez seja uma das reações mais naturais e que caracteriza a natureza humana com maior fidelidade. Segundo relatos bíblicos, quando Deus questionou a Adão sobre os motivos pelos quais foi levado a comer da árvore que havia ordenado não comer, o primeiro homem da Terra disse: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. (Gn 3:12)

A partir deste ato, praticado há alguns milhares de anos, nós, seres humanos, nos concentramos muito mais em justificar nossas falhas do que reconhecê-las e nos aprimorar fundamentalmente a partir de uma análise criteriosa, cujas bases mais eficientes serão sempre os erros. Os acertos, embora muito comemorados, logo são esquecidos; mais ou menos como o que acontece com o funcionamento da memória daquele que agride em relação ao agredido: “Quem bate, esquece”.

Trazendo essas considerações que fiz para o campo do exercício da cidadania, percebemos o quanto as mazelas de uma cultura imediatista e que não visa resultados a médio e muito menos a longo prazo, vem impedindo que o nosso município – Conceição da Barra – vislumbre um futuro de oportunidades, onde o trabalho venha ser a prioridade número um de quem tem o poder de dar este encaminhamento. E é claro, quando digo “poder de dar encaminhamento”, me refiro sim ao papel da classe política, afinal, num sistema de governo onde a democracia é a regente e as pessoas são eleitas para nos re-pre-sen-tar, esperamos no mínimo que os movimentos por eles orquestrados, resultem em benefícios, senão para todos, pelo menos para a maioria, se considerarmos não ser possível ser unânime quando lidamos com seres humanos. Entretanto, não podemos nos esquecer que o papel do político não é o de gerar emprego. O seu papel é possibilitar um ambiente que favoreça a produtividade, consequentemente, o emprego.

Contudo, a atitude de cruzar os braços numa clara intenção de atribuir toda a responsabilidade para aqueles que foram eleitos e culpa-los por seus fracassos, configura-se na perpetuação de procedimentos e comportamentos que ao longo dos anos nos engessaram e não apenas impediram-nos de crescer, como sem dúvida nenhuma, nos fizeram regredir. Sim, regredir, pois é notória a nossa decadência nas duas atividades econômicas que são nossa maior potencialidade: A pesca e o turismo. Na outra ponta, o serviço público, é comum encontrar pessoas que não enxergam a sua função como nobre e desdenha como se servir ao povo (e receber por isso), fosse um fardo e não um orgulho.

Despreparo? Ingenuidade? Ou um misto disso tudo e mais algumas coisas? Talvez... mas até as crianças rompem também a fase do despreparo e da ingenuidade e tornam-se adultos bem mais dinâmicos do que podíamos supor. E nós? Até quando vamos assistir à banda passar, vivendo de nostalgias, ao invés de seguirmos em frente, contribuindo na elaboração de um projeto de desenvolvimento para o nosso município que não esteja atrelado apenas às pessoas que irão geri-lo e sim aos resultados que poderá apresentar no médio e principalmente, no longo prazo?

Não se faz projetos pensando em quem vai executá-lo. É preciso entender que bons projetos, sobretudo projetos que demandem ações políticas, só terão viabilidade se cada um abrir mão do que deseja em detrimento do que é necessário e isto requer coragem, maturidade, altruísmo e uma força de vontade que provavelmente superará os diversos obstáculos que aparecerão. Precisamos, não apenas demonstrar mas ter maturidade. Até a natureza nos ensina que o sucesso das formigas é que elas tem foco no que estabeleceram como objetivo, enquanto a cigarra, cantarolando sem nenhuma objetividade, gemerá no próximo inverno.

É preciso assumir responsabilidades e parar de discutir o sexo dos anjos. O nosso município não suportará a continuidade de um comportamento egoísta que permeia a natureza de muitos e que os conduzem ao equivocado entendimento de que se o “seu” problema está resolvido, o resto que se lixe.

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