Tive o privilégio de participar recentemente da Conferência Municipal de Educação do meu município. O evento, que precede a Conferência Estadual, que por sua vez preparará uma comissão para discutir os rumos da educação no Estado e no País, na Conferência Nacional de Educação – CONAE – em abril de 2010, aconteceu nas dependências da UAB em Conceição da Barra. Nesta oportunidade deverão estar presentes representantes do setor educacional de todo o Brasil, bem como, a sociedade civil (via Conselhos Estaduais de Educação) que tem a incumbência de ser a voz dos pais de alunos de todas as escolas brasileiras, públicas e particulares.
Agora que já esclareci o que é a CONAE 2010, volto ao real tema que me levou a escrever essas linhas.
Mencionei a palavra “privilégio” ao me referir à minha participação na Conferência porque para minha surpresa (ou talvez nem tenha me surpreendido tanto assim) eu era o único que não representava a classe diretamente envolvida com o evento: Os profissionais da Educação. Entretanto, devo admitir que determinados assuntos são melhor debatidos quando as pessoas envolvidas entendem e vivem no seu dia a dia as questões relacionadas ao tema. Talvez, por esta razão, não cabe aqui uma crítica mais pesada quanto a quase nenhuma representatividade por parte dos pais dos alunos, que na minha opinião, deveriam ser os maiores interessados nos rumos que a Nação terá, após a realização desse evento em nível nacional.
Superado este primeiro sentimento de que definitivamente a educação não faz parte das prioridades dos pais de nossos estudantes, sobretudo se considerarmos que a própria dinâmica do evento estabelecia um quantitativo “x” de participantes, eis que surge no decorrer dos debates, um assunto que me deixou deveras desmotivado dada à resistência da classe docente (presente no evento) em sequer discuti-lo. A assimilação de disciplinas que não sejam a de seu domínio, tais como filosofia, sociologia, ética, política, etc..., como forma de não permitir que determinados questionamentos não fiquem sem respostas, não foi debatido. A justificativa, de que havia “colóquio” específico que tratava do assunto no documento-referência disponibilizado pelo Ministério da Educação, não permitiu a promoção de um debate local acerca da necessidade em estabelecer a excelência na relação mestre/aluno, utilizando como ferramentas a interdisciplinaridade e os assuntos cotidianos.
Ora, não entendo as razões que levam os nossos professores a não aceitarem o desafio do aprimoramento em outras disciplinas – e não me refiro a tornar-se especialistas no assunto – salvo o argumento dos baixos salários, que, convenhamos, ainda não justifica negar-se a absorção de conhecimentos gerais que a bem da verdade, deveria lhe proporcionar, no mínimo, satisfação pessoal.
Por não ser um profissional da área, pode ser que a minha opinião esteja equivocada, entretanto, como pai, não posso deixar de me queixar ao considerar que a minha avaliação é correta, além disso, reproduzo apenas o que grandes nomes da educação brasileira vem defendendo como solução para a baixa qualidade do ensino em nosso País, embora tenhamos que reconhecer que muito se avançou nos últimos anos. Só para citar um deles, leia o que disse o filósofo, professor, teólogo, psicanalista e escritor Rubem Alves a um jornal de grande circulação no nosso Estado: “Tudo depende da sensibilidade do professor, de sua capacidade de pensar outras coisas que não sejam os conteúdos. Se ele for extremamente competente só na sua disciplina, será incapaz de responder às questões provocadas pelo aluno. Conhecer o programa é fácil; complicado é conhecer a vida”.
Essas foram as palavras do professor e acredito que se aplica a todos os profissionais da educação, não importando se ele leciona na capital do Brasil ou em Conceição da Barra. Se não nos dispusermos a romper nossos limites, exigindo de nós mesmos um desempenho excelente a cada dia, sobretudo numa área tão importante quanto a educacional, não surtirá efeito algum as mudanças estruturais que tanto anseia a ampla maioria desses profissionais.
Se o assunto não merecia um debate acalorado, presumo que a prática requerida já é uma realidade em nosso município; pelo menos para aqueles que participaram da Conferência. Caso contrário, não ficou claro para os nossos professores que a sua capacidade sensitiva, também é uma determinante para a qualidade do seu aluno. Não creio na hipótese de um aluno desmotivado, sem perspectiva e alienado diante de um professor pró-ativo e antenado (para usar um termo moderno) a ponto de promover debates inteligentes e que rompam as barreiras que limitam a sua disciplina dos fatos cotidianos.
Tenho certeza de que os professores que estão lendo este texto, não me tomarão por um inimigo e sim alguém que valoriza a nobre profissão de professor e gostaria de vê-los realizados, em todos os sentidos.
Carlos Quartezani
Conceição da Barra-ES, 08 setembro de 2009
Conceição da Barra-ES, 08 setembro de 2009
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