sábado, 30 de julho de 2011
Lei Maria da Penha, MST, Pastoral Carcerária
segunda-feira, 25 de julho de 2011
O dever de depor na idade provecta
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Supremacia do ser sobre o ter
João Baptista Herkenhoff
Os meios de comunicação social vêm-se encarregando, com agressividade cada vez maior, de propor o consumo como meta de vida. O sistema econômico vigente tem, nos mecanismos de mercado competitivo, o fundamento de sua organização. O parâmetro de êxito pessoal, imposto pela cultura dominante, é possuir e consumir.
Nasci numa casa modesta, em Cachoeiro de Itapemirim. Pais pobres, pobreza escolhida e assumida. Respirei a simplicidade no viver como atmosfera da infância. Ter apenas o essencial, naquela casa em que nasci, era tão espontâneo, que nunca me senti privado do supérfluo.
Foi preciso crescer, ler, refletir, encontrar Gabriel Marcel para compreender a dimensão ética daquele não ter.
Segundo Marcel, o ter é uma fonte de alheamento. Aquilo que possuímos ameaça de nos tragar. Os homens que vivem na zona do ter são almas cativas que sofrem uma deficiência ontológica com a perda do ser. Tais homens são indiferentes ao outro. Não estão à disposição. Fogem no momento de perigo. Para o homem que vive na dimensão do ter, todas as coisas são problemas; para o que entra em seu próprio ser, convertem-se em mistério.
O ser, já por si, é um mistério: não se pode comprovar, computar e dominar, mas apenas reconhecer.
Através de Gabriel Marcel vi explicitada a filosofia da casa em que nasci.
Dentro dessa perspectiva é que entrei para a Academia Espírito-Santense de Letras. Não se tratava de ter: a cadeira, a honra. Mas de ser. Não lutar e morrer pelo mundo das coisas. Não perseguir valores do pragmatismo.
Depois do ingresso na Academia, tive a alegria de constatar que eu me integrava à convivência de pessoas que também vivem na dimensão do ser.
É um grupo fraterno, não de competidores, mas de companheiros.
Como é belo que as vitórias de cada um sejam celebradas por todos: cada livro publicado, cada prêmio conquistado, cada viagem pelos caminhos do mundo, tudo isto é vivido na partilha.
Comparecer às reuniões não é uma obrigação, mas um momento de fraternidade e de paz.
No poema Fraternidade, ao desenhar este sentimento, que é o mais nobre do espírito humano, Newton Braga escreveu:
“Esta sensibilidade, que é uma antena delicadíssima,
captando pedaços de todas as dores do mundo,
e que me fará morrer de dores que não são minhas.”
Só há disputa, dentro da Academia, no momento da escolha de um novo membro: sempre vários candidatos concorrem à vaga que se apresenta.
Mas depois, quando o candidato derrotado numa eleição é vitorioso na eleição seguinte, o primeiro a saudar o novo confrade é justamente aquele acadêmico que foi competidor do que é agora sufragado pela maioria.
Na solenidade de posse (por força de uma tradição mais que centenária), o novo acadêmico é saudado por um membro da casa. No meu caso particular, fui saudado pelo inesquecível magistrado, professor, escritor, intelectual de múltiplos saberes – Clóvis Rabelo. Não me lembro apenas das palavras, mas também dos gestos, da fisionomia, da pujança espiritual do Doutor Clóvis, naquela noite.
Mas voltemos a Gabriel Marcel. Segundo esse filósofo, um discurso acadêmico pode ser um problema ou um mistério. Será um problema se for encarado como algo que nos corta o passo, um gigante assustador com o qual o orador se defronta.
Será mistério na medida em que o orador se veja metido nele, na medida em que seu próprio ser nele se implique e se comprometa.
Foi como mistério que, na inesquecível noite de posse, busquei encontrar o espírito de Aristóbulo Barbosa Leão, meu antecessor, a fim de lhe descobrir a identidade, os motivos, a razão existencial.
Esforcei-me por reconstituir a figura dele, como é de praxe nas posses acadêmicas.
Aristóbulo era homem de vida disciplinada. Não fumava. Não bebia. Era organizado e pontual. O Ginásio São Vicente era a menina de seus olhos. A ele dedicou-se, integralmente.
Não obstante a disciplina rígida adotada, seu relacionamento com os alunos era muito carinhoso. Os alunos brincavam com ele e a todos conhecia pelo nome. Estava sempre disposto a orientar e aconselhar. Nunca elevava a voz quando se dirigia a alguém. Valorizava o trabalho dos professores, incentivava-os. Criava no ginásio um ambiente de cooperação.
Manteve-se solteiro até o fim da vida. Espírito místico, é possível que tenha escolhido o celibato para realizar a doação total.
Professava a fé espírita.
Inspirava a mais completa confiança.
Amava a natureza e gostava de cantar.
Alguns de seus mais íntimos colaboradores, no Ginásio, acham que ele não foi compreendido, pensam que foi esquecido pelo povo e que, no atual Ginásio São Vicente, não há mais sua presença.
Seu centenário de nascimento (1987) não foi reverenciado.
Algum dia sua memória terá de ser resgatada em todo o seu esplendor e grandeza.
A grande obra de Aristóbulo Barbosa Leão não foi a obra literária, porém a fundação do Ginásio São Vicente. E o maior gesto de sua vida foi a doação do Ginásio à Prefeitura Municipal de Vitória.
O artista contemporâneo Joseph Beuys vem alargando o conceito de arte para compreender nele toda a criatividade humana. Assim o professor, o cientista, o filósofo, o revolucionário, o utopista são todos artistas.
Nessa colocação de Beuys parece que não tem sentido separar o biográfico do biobibliográfico. A biografia é bibliografia porque a vida mesmo é criação.
Tudo que fez, tudo que falou, tudo que escreveu Aristóbulo teve como núcleo o Ginásio.
Quanto à pedagogia de Aristóbulo Barbosa Leão cometeríamos um erro metodológico – o anacronismo – se pretendêssemos examinar seu pensamento à luz das ideias vigentes hoje, em matéria de ensino.
Contudo, mesmo no seu tempo, Aristóbulo tinha a compreensão de princípios ainda bastante atuais.
Não obstante seu colégio destacasse o mérito individual, ele entendia que cada um deveria crescer segundo sua medida e que havia tempo para todos progredirem.
O respeito à pessoa humana fica evidenciado quando, num edital de notas obtidas pelos alunos, constata-se que foram omitidos os nomes dos alunos insuficientes e reprovados.
Aristóbulo Barbosa Leão, se vivo fosse, não manteria no “São Vicente” de hoje a pedagogia de ontem. Ele acreditava numa “lei universal do ritmo” e na “lei da evolução”.
Tudo deve ser renovado. De permanente, em Aristóbulo, é o amor que teve à educação, a consagração integral do homem à obra, a fidelidade a princípios nos quais acreditava. São valores que o tempo não modifica.
João Baptista Herkenhoff, 75 anos, magistrado aposentado, é membro da Academia Espírito-Santense de Letras e da União Brasileira de Escritores. Seus mais recentes livros são Mulheres no banco dos réus (Editora Forense, 2008); Dilemas de um juiz – a aventura obrigatória (Editora GZ, 2009); Filosofia do Direito (GZ, 2010).
E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Relembrando uma visita a Natal e a Câmara Cascudo
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Preso, estudo, esperança
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Refúgio, ato humanitário
sábado, 9 de julho de 2011
O desânimo do turismólogo e a “indústria que não polui”
Outro dia, observei o diálogo de alguns jovens barrenses numa dessas redes sociais e o assunto, contrariando a normalidade dos temas recorrentes no universo juvenil, era o desânimo em relação ao curso que estão fazendo: Turismo.
O papo era que não viam perspectivas de conseguir um bom emprego depois que concluíssem o curso, por isso, alguns diziam que já estavam partindo para outra, aguardando apenas a conclusão dos últimos períodos, para tentarem uma atividade profissional que nada tem a ver com o curso que irão concluir.
É evidente que muitos jovens, sobretudo de cidades do interior, têm dificuldades em vislumbrar um futuro promissor tendo em vista a realidade que os cerca. Caso não sejam funcionários públicos (Prefeitura), sobram poucas oportunidades no mercado de trabalho que no caso de Conceição da Barra, resume-se às usinas de açúcar e álcool e ao comércio local que, invariavelmente, é preterido pelo comércio da cidade vizinha.
Mas, até quando exportaremos jovens para os grandes centros urbanos que por sinal já estão acima de sua capacidade de suporte? Estamos andando em círculos, porque na medida em que não geramos as oportunidades aqui onde estamos, somos obrigados a mandar os nossos filhos para outras cidades, na expectativa de que ao fazer isso estaremos oferecendo o “melhor” para eles.
Acredito na nossa capacidade de manter os nossos jovens aqui na cidade, sem perdê-los para o crack e o acoolismo, na medida em que acreditarmos que a solução reside em simples e eficazes ações de governo. É novidade para alguém que o nosso município tem por vocação o Turismo e a Pesca? Acredito que não, portanto, no caso do Turismo, por que não buscamos alternativas que alavanquem a cidade como fez Porto Seguro, na Bahia, que há 30 anos (mais ou menos) estava esquecida em meio ao atraso e à também falta de perspectivas futuras? Porém, o que tem nos faltado é a capacidade para escolher “projetos de governo” e não pessoas que, cada qual ao seu modo, querem apenas a perpetuação no poder, executando ações que tem por finalidade específica a sua reeleição, ignorando as reais necessidades do município.
Quem disse que a prioridade de Conceição da Barra é calçar ruas? E se assim o fosse, quais os critérios para escolha das ruas a serem calçadas? Penso que uma cidade que não investe no estímulo aos educadores – só para exemplificar - premiando-os por mérito como vem fazendo o governo do estado, não pode e nunca conseguirá alcançar os objetivos básicos de uma cidade que quer manter seus jovens no lugar em que nasceram.
Conceição da Barra é o nosso País, portanto, devemos cuidar do nosso país em todos os sentidos. Um país precisa de jovens ativos e com o coração cheio de sonhos e a expectativa de um futuro promissor, de oportunidades. Quem estiver lendo este artigo saiba que o faço porque acredito em minha cidade e não me alegro em saber que estudantes de Turismo, uma atividade que deveria ser o “carro-chefe” do nosso desenvolvimento, seja tão desprezada que os estudantes estejam desanimados e prontos para partirem para outra, porque não acreditam na atividade, nem aqui e nem na região norte do ES.
A crítica cabe também aos municípios vizinhos, tais como São Mateus, que embora tenha a enorme vantagem de estar às margens da BR, também tem no seu governo a marca do tacanhismo, da incapacidade de enxergar as possibilidades de desenvolvimento, através do Turismo, que serão tão exploradas em tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas, no Brasil.
Falta muita coisa, mas o que mais falta é humildade em reconhecer que um governo não se faz sozinho. Lamento que tenhamos chegado a um ponto em que até quem tem oportunidade de estudar, esteja ainda mais desmotivado do que aqueles que não tiveram.
sábado, 2 de julho de 2011
A Política e os “Mitos”
Me sinto solitário falando sobre o tema que vou discorrer agora, mas não desistirei de tentar faze-lo na expectativa de que através desse pensamento, as pessoas possam sentir-se provocadas a tentar compreender a importância dessa discussão para encontrar os caminhos que nos levem às soluções dos problemas que vivemos em sociedade. Problemas sempre existirão, mas quando não há discussão sobre as soluções mais viáveis, eles se tornam parte da paisagem.
A morte do ex-presidente da República, Itamar Franco, ocorrida hoje em São Paulo, é mais um episódio emblemático do que venho falando a respeito dos “mitos” na política e o perigo que isto representa para a verdadeira e legítima democracia. A distância que as pessoas estabeleceram entre a sua vida cotidiana e a política, facilitaram a criação desses “mitos” que num passado recente, eram chamados de “salvadores da pátria”, expressão que ganhou fama nacional numa novela exibida na Rede Globo, através da personagem Sassá Mutema, interpretado pelo ator Lima Duarte.
É óbvio que temos que dar os créditos às pessoas que colocaram seus nomes à disposição para representar um projeto político, entretanto, o que se verifica é que na medida em que esse projeto sagra-se vencedor, instantaneamente ganha um “dono” e a idéia, o planejamento e os sonhos compartilhados, propriamente ditos, se perdem nos devaneios daquele a quem empenhamos nosso esforço e luta para que fosse o representante do projeto em questão.
Política não se faz sozinho. É preciso ter consciência de que todas as ações devem ser criteriosamente analisadas por todos aqueles que fazem parte da construção do projeto e na medida em que não haja consenso, o conceito de “maioria” passa a ser o melhor critério de decisão por parte de quem o representa. Os “mitos” que estão sempre presentes no modelo de política vigente, impede que a verdadeira democracia seja exercida, uma vez que a “sua vontade” torna-se soberana, em detrimento do conselho político que deveria haver num governo efetivamente democrático.
Não quero fazer comparações entre um mito ou outro, porque todos são criados através dos mesmos critérios. Menciono Itamar Franco porque num momento em que o Brasil passava por um dos seus períodos mais difíceis, ele surge com uma idéia construída a várias mãos que desencadeou o processo de criação e fortalecimento da moeda brasileira atual e a estabilização econômica tão necessária naquele momento. Seu compromisso com o projeto, com o Brasil foi tão importante que o seu principal ministro, Fernando Henrique Cardoso, foi projetado ao cargo de Presidente da República para representar a idéia, o projeto, tão bem elaborado sob a responsabilidade do então presidente da República Itamar Franco.
Nos municípios, por exemplo, é tão arraigada a idéia dos “mitos” que torna-se preocupante imaginar quem poderia se candidatar ao cargo máximo (prefeito municipal) que não sejam os nomes de sempre. Com a geopolítica, estratégia estabelecida no país sob a égide da “união em nome do coletivo”, ficou ainda mais complicado o caminho de quem vislumbra um espaço na política, desestimulando ainda mais aqueles que gostariam de dar sua contribuição para uma cidade melhor, um país melhor, por saber que com a “mitologia” presente, o debate e a política genuína, cedem lugar aos pequenos grupos que entendem representar os interesses da coletividade e utilizam de todos os meios imagináveis e inimagináveis para fazerem valer a sua vontade.
O povo precisa se aproximar da política, dos partidos políticos e passarem a, de fato, participarem do processo. Não há como governar o povo, sem a sua presença. É inconstitucional! O poder emanava do povo! Mas para isso, é preciso se organizar, do contrário, é anarquia e anarquia só se justifica sob o caos...