O
ano não é possível precisar, mas seguramente aconteceu no fim da década de 70
ou início da de 80. O médico novato numa comunidade carente, norte do estado do
Espírito Santo, fazia parte de uma equipe coordenada por um experiente e
importante médico do Município, que inclusive chegou a ser eleito prefeito da
cidade.
Ao
chegar na localidade, vindo da cidade grande onde fez o curso e a residência em
grandes hospitais, o médico novato se deparou com um caso, digamos, inusitado.
Ao atender uma senhora, que reclamava de dores provenientes de um “cisto” que a
incomodava já a algum tempo, o jovem médico concluiu (só de olhar) que na
realidade não se tratava de um cisto, mas, de um bebê. Ao
dizer isto para a paciente, sua reação foi a das mais surpreendentes possível
para o jovem médico:
–
O senhor me respeite, eu sou viúva e além do mais sou evangélica! Disse a paciente
bastante alterada, saindo do consultório garantindo que o insulto não iria
ficar barato.
Apesar
da surpresa do médico, vendo a reação da senhora que ao invés de alegrar-se com
a notícia, saíra revoltada do consultório, o jovem médico continuou sua missão
- árdua diga-se de passagem - considerando sobretudo as péssimas condições
locais para o pleno exercício da medicina.
No
dia seguinte – ou no mesmo dia, não se sabe ao certo – entra de porta-a-dentro
do consultório médico, o Pastor da igreja a qual a citada senhora era membro,
cobrando explicações pelo tão “desaforado” diagnóstico apresentado à “irmã”
que, viúva, não se conformara com o que disse o médico acerca do seu problema.
O
jovem médico, na tentativa de amenizar o constrangimento, porém, convicto de
que se tratava de uma gravidez mesmo, disse que sua suspeita só poderia se
comprovada com exames apropriados e que a encaminharia para a sede do
Município, onde o chefe da equipe médica local, experiente e com mais recursos,
poderia apresentar um diagnóstico mais preciso. Assim sendo, encaminhou a paciente
para a sede do Município com um bilhete ao colega médico que dizia mais ou
menos assim:
“Doutor,
encaminho este caso para que o senhor avalie se realmente trata-se de um cisto,
uma vez que a paciente não concorda com o meu diagnóstico apontando para uma
gravidez”.
Dias
depois, o jovem médico recebe o retorno de seu bilhete, com as seguintes
palavras:
“Doutor,
avaliamos o caso e concluímos que o “cisto” da sua paciente possui bracinhos,
perninhas, olhinhos, boquinha... e espero que de sua parte possa ajuda-la nos
exames pré-natais que são fundamentais para esse tipo de caso.”
A
história que acabei de contar, pode até não ser exatamente como eu narrei. Pode
ser que eu tenha omitido algum detalhe. Mas é real e demonstra o quanto até nos
dias de hoje, há muita dificuldade em conseguir fazer com que as pessoas possam
se desvencilhar de alguns conceitos, ou até pré-conceitos, em nome da “moral e
bons costumes”, o que, efetivamente, tem levado muitos ao sofrimento e
impedindo por exemplo que um determinado tratamento de saúde não seja realizado,
por conta desses empecilhos atrelados, sobretudo, à falta do CONHECIMENTO.
Doenças
tais como “câncer de próstata”, só para exemplificar, tem seu diagnóstico retardado
e por conta disso, um tratamento com complicações ampliadas, em razão da dificuldade que tem os
homens, especialmente os mais idosos, de se submeterem em tempo hábil ao
desconfortável mas fundamentais exames especialmente o de toque.
Como
dizem por aí: Fica a dica!
Nenhum comentário:
Postar um comentário