Quanto menor é a cidade, menor é a preocupação com o trânsito de pessoas e veículos, tanto por parte dos cidadãos quanto das autoridades que, obviamente (me refiro à Polícia Militar) não teria a função de disciplinar essa conduta, caso houvesse outra autoridade, específica, para fazê-lo.
O que se tem percebido na cidade que sou nascido mas no momento não resido é o registro de diversos acidentes (pasmem, de trânsito) envolvendo veículos automotores numa cidade cujo transporte mais comum, até pouco tempo atrás, era a bicicleta.
Alguns mais graves que outros mas sempre envolvendo pessoas que adquiriram o seu veículo há pouco tempo. Sem querer com isto explorar a habilidade ou não do motorista. Efetivamente, acidentes acontecem mas a repentina quantidade de veículos circulando, é o ponto que requer atenção.
O que quero tratar no presente texto não é especificamente o motivo pelo qual mais pessoas puderam adquirir um veículo, mas alertar as autoridades municipais a dar um tratamento adequado ao trânsito na cidade, tendo em vista a nova realidade financeira de boa parte da população, contemplada com as indenizações oriundas do acidente ambiental, ocorrido numa das barragens da Vale/Samarco em Minas Gerais.
O acidente, ocorrido em 2015 e que atingiu economicamente o município, gerou essas compensações financeiras a pescadores e outros atingidos, mudando nitidamente a realidade financeira do lugar. Pelo menos, por ora.
A sede do município de Conceição da Barra-ES, que tem 130 anos de emancipação política, não foi planejada para a presença de muitos veículos automotores.
Suas ruas estreitas e poucos espaços para estacionamento, já dificultam bastante o trânsito quando os turistas chegam nos feriados prolongados e nas férias de verão. Hoje, esse movimento que se pode chamar de caótico - sem exagero algum - já acontece no dia a dia, gerando esse fenômeno que podemos até chamar de estranho, se considerarmos que o balneário não tem mais que 15 mil habitantes.
As mudanças ocorridas requerem um debruçar das autoridades municipais sobre como melhorar a estrutura viária da cidade, podendo, inclusive (se for o caso) a implantação de um sistema de sinalização de trânsito e assim, não apenas oferecer mais segurança aos visitantes mas os barrenses, cuja preocupação com os acidentes, já está evidente nas conversas informais na cidade.
Só para não ficar restrito aos novos proprietários de veículos a minha observação sobre a necessidade de uma maior atenção no trânsito em Conceição da Barra, vivi uma experiência recente nada agradável envolvendo uma ciclista numa rua convencional da cidade, onde fica a minha casa.
Num cruzamento comum no qual qualquer pessoa sabe de quem a preferência, fui surpreendido por uma condutora de uma bicicleta que despreocupadamente atravessou na frente do meu veículo, completamente absorvida por algo que assistia no seu aparelho celular, outro equipamento que passou também a ser muito mais comum a sua posse, após a maior circulação de mais dinheiro nas mãos dos barrenses.
Felizmente, consegui frear em tempo e evitar o pior. A ciclista, por sua vez, continuou absorvida pelo que acontecia no mundo virtual e nem se deu conta do perigo que passou.
Como eu disse no início, a preocupação que entendo ser legítima é de que um olhar mais atento das autoridades quanto aos efeitos da maior quantidade de veículos nas ruas, pode resultar em menos dor de cabeça para todos, numa cidade cujo principal atrativo para a presença de turistas é o sossego e a certeza de que acidentes automobilísticos não nos pertencem ou não nos pertencerão mais.
São Mateus-ES, 30/05/2022
Carlos Quartezani
Jornalista e Microempreendedor
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